sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Pérolas da noite

E enquanto as pérolas falsas enrolavam no pescoço de uma qualquer, usando outras joias baratas, roupa de feira malacabadas e cabelos cheios de laquê, alguém se contorcia numa cama de motel, revirando-se pelo calor do corpo e da alma. Lavada, diga-se!, de suor. Na noite escura, visível de costas apenas pela silhoueta desenhada pela luz do poste, vagava ela sem destino e sem rumo, bêbada, drogada e faminta. Saciada, de todos os tipos de comida, num quarto refrigerado numa cama macia com lencóis de seda, uma taça de espumante era a única companhia e o perlage o único que ainda subia. Ali do lado, a água do chuveiro caía sobre outro corpo cansado, antes suado, e reavivava forças para uma noite que parecia estar apenas começando. Na rua, o suor escorria cada vez mais torrencial, na noite abafada que prometia ficar ainda mais quente. Mas antes mesmo que o sol desse o ar da graça, cada uma delas estaria em seu leito, imundo que fosse, fétido, mas seguras das sensações. Nem perlage subiria mais. As pérolas falsas ficaram pelas ruas e derrubariam muitas outras, enquanto a vida seguia... redonda... como as pérolas falsas!


Rimene Amaral

Ciclos

Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida. Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é. Torna-te uma pessoa melhor e assegura-te de que sabes bem quem és tu próprio, antes de conheceres alguém e de esperares que ele veja quem tu és... E lembra-te : “Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão”.


Fernando Pessoa

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Bem-vinda... bem-linda!



São duas flores unidas
São duas rosas nascidas
Talvez do mesmo arrebol,
Vivendo,no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.

Unidas, bem como as penas
das duas asas pequenas
De um passarinho do céu...
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.

Unidas, bem como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar...
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.

Unidas... Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!

Castro Alves

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Camarãozinho emocional

Camarão Crispim...
Camarões gigantescos, empanados em crosta de gergelins, servidos com molho de limão! Feito pela chef liMda Emiliana Azambuja, lá no Emi cozinha emocional, para comer e se emocionar.
Provei, aprovei, lambi os dedos e comi mais...
Vale a pena!

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Saudades

http://www.youtube.com/watch?v=_OFMkCeP6ok

Saudades


Às vezes a gente acorda e acha que muita coisa na vida, que aconteceu faz pouco ou muito tempo, não passou de sonho. Temos a nítida impressão de que as coisas boas apenas 'dão um tempo' e voltam melhores. Tão melhores que se fecharmos os olhos e apenas ouvirmos não podemos encontrar absolutamente nada que possa ser melhor, naquele exato instante. Aproveite um desses momentos. E ficamos apenas na saudade, que é o que nos resta! Bom dia, quinta-feira!

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

A tiara de flores brancas



Lá de longe eu via chegando.
Os cabelos esvoaçantes teimavam em se misturar à tiara de flores brancas que segurava as madeixas, no alto de sua sinagoga.
E o vestido às vezes se ofuscava por detrás da poeira marrom.
O voz era a mesma. Com a sutileza distante de um canto agridoce em uníssono com o vento. Gemia!
Passos largos corria!
Apavorada para chegar perto e vislumbrar a entrada da capela, que ainda estava sem luz.
Sentou-se ali, numa pedra nada polida e sentiu o primeiro rasgo no vestido.
O sol baixou... A lua se ergueu...
E ninguém apareceu!
Ficaram os cabelos duros e embaraçados de poeira, a tiara de flores brancas e o vestido rasgado. Um copo de cólera para uma boca amarga e um pote de mel para adoçar as veias de fel.
Até o vento se foi. E ela também... a poeira, só no rastro e na esperança fugida até a próxima sexta!, quando o vestido remendado e a tiara de flores brancas atravessarão, novamente, o vendaval seco. Ela se sentará na pedra, fará um rasgo no vestido, esperará o sol cair e, nesta noite sem luar, voltará pra casa sonhando com o amor que não apareceu!

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Saudade


Não faz muito tempo e o varal não tinha um só prendedor sem ocupação. Aos poucos, a família vai minguando, se mudando, se separando e se afastando. Vez ou outra se juntam, mas por tempo curto, que não seja suficiente para dar utilidade aos prendedores que ficam ali apenas para trazer lembranças. As roupas agora são poucas. As pessoas também...

domingo, 4 de setembro de 2011

Uma imagem


Vez ou outra acontece isso: os olhos conseguem ver, mas o cérebro não define a imagem. Sabe-se que é algo belo de se ver. As cores remetem a belezas inigualáveis, incalculáveis e ilegíveis. Um detalhe chama atenção, mas, ainda assim, é preciso admirar sem brigar com a imagem. Deixa ela aí. Deixa fluir! Viage. Essa é uma das emoções que a fotografia me proporciona. Eu sei o que é, quem capturou fui eu! Mas também me pego vagando em cada uma das ranhuras, em cada raio dourado como se fosse ouro sendo consumido pelo fogo, num deserto quente de beleza incomparável!