Acho que a minha vontade e meu gosto
para viajar vem da forma como fui criado. Meu pai, curioso como eu, adorava
passar horas folheando um atlas. Apontava todos os lugares que um dia queria
conhecer. Passeava pela Ásia, África, Oriente Médio, Europa... e tinha um
encanto especial pelo Estreito de Gibraltar, aquele pedacinho de água entre a
Espanha e o Marrocos, que liga o Oceano Atlântico ao Mar Mediterrâneo. Devia
ser pela fama do lugar, muitas vezes citado nas aulas de história.
Enquanto papai viajava pelos mapas,
eu comecei a criar coragem, fazer as malas, só ou acompanhado, e sair pelo
mundo. Sempre preocupado em conhecer aqueles pontos que papai tanto falava
quando estava debruçado sobre um atlas. Eu queria poder contar para ele cada
detalhe que tinha visto. Queria que ele estivesse ali para ver exatamente o que
eu via, pelo mesmo ângulo e tendo as mesmas sensações. É como seu eu pudesse
ver o rosto dele me explicando o lugar, a topografia e todas as informações
contidas nos atlas.
Como eu não podia tê-lo em todas as
minhas viagens e ele não podia conhecer ao vivo tudo o que eu conhecia, já que
ele não estava ali, eu poderia levar aquilo ali para que ele pudesse ver sob o
meu ângulo. E foi aí que a fotografia ganhou grande importância na minha vida.
Era com ela que eu podia fazer papai viajar mais. Se eu não podia leva-lo
comigo, eu trazia as fotos. Era uma forma de eternizar tudo o que vi, trazendo para
ele as imagens de onde estive, de onde ele tanto falava e cria um dia estar.
Hoje, com as imagens de todos esses
lugares ainda eternizadas, fica o vazio de uma vida que não durou muito. Logo
ele que dizia que sua vida seria eterna e ficaria para semente... Ironia! Mas
aqui dentro, mesmo sem a imagem dele, ficam eternizados seu sorriso e seus
gestos. Meu querido pai, onde estiver, feliz aniversário.