Papai era um homem de gostos
peculiares. Digo isso porque a peculiaridade dele se resumia a não gostar de
jaca. Cenoura e beterraba, assim como a rúcula – a qual ele intitulava de “borracha
queimada” –, também não eram lá coisas que ele morria de amores, mas também não
saía à procura. Mas os gostos deles eram de babar...
Papai gostava de abacaxi, de suco de
laranja batido no liquidificador para acompanhar bauru com molho tártaro e
molho de pimenta. Gostava de pimenta. Muita! Em quase tudo. Suava com a
pimenta. Pimenta na pamonha era redundância. Papai era o detentor legal de
todas as panelas de arroz com “rapa”. Na sobremesa poderia ser jujuba.
Papai gostava de macarrão. Não! De “macarronada
tradicional”, como ele mesmo fazia questão de dizer. Gostava de
pamonha-travesseiro com requeijão cremoso por cima. Não abria mão de cebolinha
de folha em cima até do arroz branco. E do pirão de peixe? Da moqueca...
Gostava disso tudo também e de uma língua ao molho que só ele fazia. Só ele!
Papai gosta de palavras-cruzadas.
Fazia a lápis para facilitar a correção, caso errasse. Vale ressaltar que eram
sempre as “Crânio/Desafio”. Papai gostava de viajar à Bahia. Se sentia em casa,
mas como criança. Rejuvenescia décadas quando bebia daquela água. Até da água
que passarinho não bebe.
Papai gostava de conversar, de puxar
assunto, com qualquer pessoa. Em qualquer lugar. Poderia ser um nato contador
de histórias. E muitas vezes o foi. Ele gostava de compreender as pessoas da forma
dele e era sempre a melhor forma possível. Papai gostava de crianças, gostava
de gente. Sempre acreditou nelas. Muitas vezes, de olhos bem fechados.
E é de todos esses gostos que dá
saudade todos os dias. Hoje é só um apertozinho a mais.
Feliz Dia dos Pais, meu pai. Onde
estiver. Amo para sempre.