sábado, 23 de março de 2013

E o Itaú sempre me surpreendendo!

CARTA ENVIADA AO BANCO ITAÚ



Nunca fui de me enfurnar numa agência bancária, a não ser que houvesse necessidade. Já tive problemas com sites de bancos por causa de transações feitas pela internet. Então, por isso mesmo, gato escaldado... Mas ainda me sobra o bankfone, do Banco Itaú! Uma maravilha. Posso pagar as minhas contas todas pelo telefone. Sempre fiz isso. Agiliza e evita tumulto nas agências. Sou a favor disso. Mas não quer dizer que seja uma regra! É uma opção, diga-se. (O caixa ainda continua sendo caixa e, pela lei brasileira, qualquer cidadão pode se dirigir ao caixa para efetuar qualquer serviço de banco!). Depois de todo pagamento, a moça do outro lado da linha perguntava como eu gostaria de receber o meu comprovante de pagamento. “Pelos Correios”, eu informava. Em sete dias, recebia o documento comprobatório e o colocava naquela caixinha de comprovantes. Ali ele ficará por cinco anos. É assim que ensinam. Mas esta opção não existe mais. Segundo os atendentes, é a política de economia e sustentabilidade do Banco Itaú, para evitar o desperdício de papel e aumentar a segurança de documentos (?). Quer dizer que antes esse tipo de atitude, de enviar documentos pelos Correios, era inseguro? Bem, mas se a política do banco é assim para ajudar o meio ambiente, vamos aceitar. É bonito ver cada um fazendo a sua parte. Recebo o comprovante agora por e-mail. Mas... Daí vem o paradoxo!

Fiquei surpreso ao saber que o Banco Itaú (um dos mais lucrativos do Brasil nos últimos anos) não autentica (ou chancela) mais os documentos pagos no caixa. O cliente recebe apenas um tíquete, em papel térmico, cuja durabilidade não ultrapassa um ano! Mas o Banco Itaú deu um jeitinho e, se você fizer tudo que seu mestre mandar, ele vai durar sete anos. Perguntei para meio mundo sobre o por quê disso e as respostas foram as mais variadas. Nenhuma delas me convenceu! Até disseram (o gerente de outra agência que não a minha) que era uma norma do Banco Central. Não é! Conversei com o meu gerente, da Agência Personnalité, e ele me tranquilizou dizendo que a agência em que movimento a minha conta faria, sim, a tal chancela no boleto de pagamento ou no papel que o valha. Mas não foi assim! Deram-me o tal papelzinho amarelo como comprovante e eu ainda pedi para que o rapaz do caixa fizesse uma fotocópia dos tais (eles até recomendam isso) para grampear junto aos documentos. Trabalho dobrado e triplicado. Não é isso?

Bem, vale ressaltar que a minha ‘bronca’ é devido à qualidade do papel em que é impresso a comprovação do pagamento. O papel termo-sensível, também usado nos extintos aparelhos de fax, varia de acordo com a temperatura e com o tempo. Em aproximadamente um ano tudo o que foi impresso, apaga. Simplesmente apaga! E todo mundo sabe disso. Se reclamo, é porque já tive problemas do gênero. Depois de pagar várias prestações, as primeiras já sumiram. Como comprovar que paguei? Indo até o banco e solicitando que faça uma devassa na minha conta, não é mesmo? Pois é. Tempo perdido, trabalho dobrado e dor de cabeça para todos os envolvidos. Simples, simples seria autenticar o documento e fazer com que todos sejam felizes para sempre.

De tantas explicações que me deram, uma delas fala sobre a agilidade! Ora, que demora há em chancelar um documento? Acredito que a impressão no papel termo-sensível demore uma eternidade, perto do que é apertar um botão para fazer com que a ‘comprovação’ fique marcada no meu documento. E ainda tem a fotocópia! Mais: eu pago para isso! E ninguém pediu a minha opinião para saber se eu aceito, se eu gosto, se eu prefiro e se eu quero receber um papel impresso que vai apagar logo, ou se eu quero a marca impressa no meu documento. Acho isso totalmente antidemocrático! E venhamos e convenhamos, a outra explicação de que é econômico também não procede. O papel é caro e gasta-se muito mais. Cadê aquela política de economia para não desperdiçar papel? Onde foi parar aquela iniciativa de diminuição de emissão de papeis para ajudar o meio ambiente? Balela? Sem falar que o papel termo-sensível contém produtos químicos nocivos à saúde humana. Imagina guardar isso dentro de um armário... E quem lida com ele todos os dias? Os bancos pagam adicional de insalubridade para que os funcionários o manuseiem todos os dias? Será que a alta cúpula do Banco Itaú sabe disso? Vamos lá: Esse papel não é reciclado! (Onde está aquela história de empresa autossustentável, amiga do meio ambiente?). Trata-se do papel termo-sensível, isso porque a impressão dos dados é térmica (feita a partir da temperatura da máquina, reagindo com o papel). Embora pareça inofensivo, esse tipo de papel apresenta em sua composição o bisfenol-A, ou BPA, que é potencialmente nocivo à saúde. Não sou eu quem diz isso. É estudo científico comprovado.

Segundo informações divulgadas no site da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia do Estado de São Paulo (SBEM-SP), “vale a pena ressaltar que alguns dos efeitos deletérios do bisfenol, como por exemplo, os de alterar a ação dos hormônios da tireóide, a liberação de insulina pelo pâncreas, bem como os de propiciar a proliferação das células de gordura, foram observados com doses nanomoleculares, ou seja, doses extremamente pequenas, as quais seriam inferiores à suposta dose segura de ingestão diária. (Fonte: Melzer et al, Environmental Health Perspectives, 2011)”.

Os males
De maneira geral, o BPA desequilibra o sistema endócrino, modificando o sistema hormonal. O efeito do BPA no organismo pode causar aborto, anomalias e tumores do trato reprodutivo, câncer de mama e de próstata, déficit de atenção, de memória visual e motor, diabetes, diminuição da qualidade e quantidade de esperma em adultos, endometriose, fibromas uterinos, gestação ectópica (fora da cavidade uterina), hiperatividade, infertilidade, modificações do desenvolvimento de órgãos sexuais internos, obesidade, precocidade sexual, retardo mental e síndrome dos ovários policísticos.

Normalmente, a contaminação se dá pela ingestão, o BPA se desprende dos recipientes plásticos e acaba contaminando o alimento. Uma pesquisa publicada pela Analytcal and Bioanalytical Chemistry, mostrou que, no caso dos papéis termo sensíveis, a contaminação pode ocorrer pelo contato com a pele. Segundo a pesquisa, a contaminação varia de acordo com a quantidade de BPA presente na composição do papel, e é bem menor do que a contaminação pela ingestão, mas ainda sim devemos estar atentos.

O que fazer?
Sempre que possível evite a impressão de extratos e comprovantes, dê preferência às versões digitais, como a comprovação do débito por SMS, por exemplo. Embora o papel termo-sensível seja reciclável, devido à presença de BPA em sua composição, o Pollution Prevention Resource Center (PPRC) recomenda o descarte desse tipo de papel no lixo comum para evitar a contaminação por BPA, que é liberado no processo de reciclagem. Segundo a pesquisa, a reciclagem do papel termo-sensível pode aumentar a exposição humana ao BPA, uma vez que, durante o processo, pode haver contaminação de outros produtos de papel reciclado. O BPA já foi encontrado, por exemplo, em papéis toalha.

Mas, além desses “probleminhas” causados pelo tal papel (e tenho certeza de que a empresa – Banco Itaú – se preocupa com a saúde dos seus funcionários e clientes) fica no ar a minha questão: qual o motivo disso? Economia, agilidade e meio ambiente? Já derrubei todas essas hipóteses. Por que não me deixam escolher o que eu quero? O banco resolve algo, que não se sabe por qual motivo, não consulta seus clientes sobre a decisão tomada e, sequer, os informa das mudanças. Isso não existe! Eu sou cliente, pago por isso e quero que os meus documentos sejam chancelados, marcados para sempre, como tatuagem. Se o banco não pode atender aos meus anseios (que são mais que normais e naturais) também não sirvo para ser cliente. Quando falamos em atendimento de excelência, a satisfação do cliente está em primeiro lugar. Não precisa ser PhD em marketing ou estratégia mercadológica para saber disso.

Então, que fique claro a minha insatisfação com o banco. Que fique claro que não aceito o tal papelzinho amarelo de fax, que contamina e prejudica a saúde, como comprovação de pagamento. Quer forçar o cliente a usar o caixa eletrônico? Ótimo! Desafoga fila. Gosto disso. Mas então, use material inofensivo e que seja de qualidade e não apague com o apagar das luzes de um ano (ou sete, como dizem, se houver cuidado maior do que se tem com um recém-nascido) já que dinheiro não é problema... Chateado com isso! Será que fui convincente?

Rimene Amaral
Jornalista e cliente Itaú Personnalité

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