Papai era um tanto quanto
conservador quanto ao seu vestuário. Pernas de fora não eram a cara dele e
somente calças abrigavam a parte esquerda do armário que dividia com mamãe! E
isso era assim em qualquer lugar cujo clima pudesse ultrapassar o imaginável,
quando o assunto era calor. Pois bem, fomos à praia! Litoral do Espírito Santo,
Manguinhos, sábado, 11 horas da manhã. Começa a saga!
Família reunida.
Estacionamos os carros cerca de 200 metros do quiosque onde montaríamos nosso
QG até o fim do dia. Crianças e mulheres à frente. Corram todos para o mar!
Protetor solar, pular sete ondas, lavar a areia do calção... Tinha todo um
processo que demandava tempo. Ao voltar ao quiosque, sentimos falta de papai.
Imaginamos que ele teria saído para fazer o reconhecimento do local, já que
ficar num quiosque de praia vestindo calças jeans não era uma coisa muito in.
Mulheres pedem peixe,
outros pedem cerveja, crianças pedem picolé. Peixe e cerveja vêm. Picolés
derretem. Crianças dormem. Todos comem. Bebem... e papai sumido! Havia mais de
duas horas que não tínhamos notícia dele. Minha tia, irmã de papai, já
estampava o desespero na face. Começamos todos a nos preocupar e nos dividimos,
cada um prum lado, à procura dele.
A meta principal:
procurar em TODOS os bares da orla. De preferência os mais vazios (aqui cabe
uma nota: papai sempre dizia, e com razão, que boteco bom é boteco vazio. Como
não tem gente suficiente pra acabar com a cerveja, ela fica mais gelada!). E a
procura começou. Parecia cena de novela. As pessoas com as mãos na testa para
se proteger do sol, gritavam na praia por ele. Todos os bares da orla foram
visitados. E todos estavam cheios. Mas ninguém o encontrou em nenhum deles.
De volta ao QG, já com a
preocupação tomando forma de desespero, me atentei para o serviço de som da
praia. “Vamos mandar anunciar!”, sugeri já perguntando para o dono do quiosque
onde ficava a central de som da praia. Ele não soube explicar. Fui entrando
pelas ruas da cidade até receber a informação correta de onde ficava a central.
Voltando para QG, antes de pedir para anunciar, enxerguei uma porta aberta e a
ponta de um balcão com uma garrafa de cerveja e um copo americano na
beiradinha. Uma mão abraçou o copo e a levou cuidadosamente até a boca,
impossibilitada de ver pela sombra. Atravessei a rua quase que num passo só.
Adentrei ao bar e ele me olhou, com ar de dúvida, e perguntou: “Produtos de
exportação das emissoras de TV, com seis letras?”. Não acreditei!
Tranquilamente aconchegado a um banco de madeira, com encosto estofado, papai
tomava a quinta cerveja e já devorava a quarta página de palavras cruzadas.
Tentei não me irritar.
Cheguei perto e ele se explicou: “Todos os bares da orla estavam cheios. A
cerveja não estava boa! Achei esse aqui!”. Disse que não se sentia à vontade
com areia nos sapatos e com a maresia embaçando os óculos. Tomei o último gole
daquela garrafa com ele e disse que iria até a praia dizer aos outros que o
tinha encontrado. Quando saía do bar, olhei pra ele de novo e respondi:
“Novelas. No plural!”. Ele sorriu, matou mais uma série de palavras cruzadas, virou
a página e pediu outra cerveja.
Pai, Feliz Dia dos Pais, onde quer
que esteja!
Sinto saudades!
3 comentários:
Belo texto... bela homenagem rapar
abraço
OPs sentindo falta de atualização por aqui hein rapar..
abraço
Oh, meu amigo!!! Obrigado pela cobrança! É que eu estou "internado" numa produtora, fazendo campanha eleitoral. O tempo tá curtíssimo e, o que sobra, quero dormir. Logo volto ao normal... Grato pelas visitas. Enquanto isso, vá vendo o facebook...
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