quarta-feira, 25 de setembro de 2013

A pastinha da loiraça belzebu

Goiânia - Assim que bateram na porta do gabinete, o parlamentar arrumou a gravata, passou a mão pelos cabelos, ajeitando os fios arrepiados, penteou o cavanhaque com as unhas, respirou fundo e ordenou a entrada. Quando a porta foi aberta, a imagem que apareceu era de tirar o fôlego: loira, olhos azuis cintilantes, boca desenhada, nariz de princesa e um corpo esculpido por horas diárias de malhação e alimentação adequada. Debaixo do braço, uma pastinha.
O parlamentar balançou a cabeça de um lado para o outro, passou a mão direita no rosto, como se enxugasse um suor que aparecera de repente e pediu para que ela se assentasse, sem conseguir desviar o olhar dos fascinantes olhos azuis à sua frente. Quando estendeu a mão esquerda apontando a cadeira para a moça, o parlamentar percebeu que sobrava algo. Disfarçadamente, retirou a aliança e a colocou no bolso.
Os serviços oferecidos pela jovem moça tinham a ver com um tal fundo que ela representava. Não se sabia bem que espécie de fundo era esse. O certo é que, de tão bom o negócio, o parlamentar convidou outros amigos para participar da aplicação no tal fundo. A conversa acabou se estendendo e, do gabinete, o parlamentar e os colegas, junto com a loira, foram a um restaurante, onde conversaram muito, beberam, comeram e decidiram fazer o investimento: colocaram no fundo da moça.
Depois que todo mundo descobriu que o tal fundo não era o que se apresentava e que, na verdade, esse fundo da moça loira não era algo cuja legalidade era inquestionável, veio a público o envolvimento da loira de olhos de anjo com todos aqueles que colocaram no fundo. E agora, como explicar? Um deu lá suas justificativas, o outro fingiu de morto e o parlamentar que recebeu a encantadora moça da pasta em seu gabinete fugiu das explicações. Não disse nada a ninguém a pedido de um outro alguém, não se sabe quem. Ficou o não dito pelo silêncio.
Mas a curiosidade maior é saber como foi a explicação em casa, para a esposa do parlamentar encantado. Aliás, não é todo dia que se encontra uma loiraça Belzebu, de olhos cintilantes, com uma pasta debaixo do braço, no seu ambiente de trabalho disponibilizando o seu fundo. Haja explicações! E que sejam convincentes. Caso contrário, a cama, por um tempo, será o sofá da sala.
Rimene Amaral é jornalista e fotógrafo.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

“Teje presa”, disse o fiscal à prostituta

Goiânia - O país inteiro levantou um gigante que abalou as estruturas das três esferas de poder do Brasil para manifestar contra tanta bandalheira, roubalheira e absurdos que ficaram entalados durante anos na garganta do povo. Depois de chacoalhar tudo por onde passou, o gigante parece ter adormecido, novamente! Efeito da caipirinha brasileira? Pode ser. O que aconteceu, nesse ínterim, ficou num limbo que, para relembrar, é preciso se recompor aos poucos.
 
Enquanto centenas de milhares de brasileiros foram às ruas pedindo o fim dessa balbúrdia, parlamentares tricotavam assuntos os mais variados, faziam seus conchavos, se trancavam em seus gabinetes e criavam os maiores absurdos que esse país já deve ter visto ou ouvido falar, depois da Idade Média.

Um dos motivos das manifestações, o projeto conhecido como “Cura Gay”, de autoria do deputado tucano, o goiano evangélico João Campos, colocou em xeque a seriedade das leis criadas pela Câmara dos Deputados e demonstrou, mais uma vez, que o que vale, para uma parcela de parlamentares intolerantes, é demonstrar poder. Seja em nome de Deus ou da própria insanidade. Não vingou! E, provavelmente, por um lapso de lucidez, o nobre deputado voltou atrás e desistiu do projeto.
 
João Campos recuou, mas não sossegou. Quando todo mundo achava que o nobre deputado tivesse adormecido como o tal gigante, eis que ele volta às páginas dos jornais e aos noticiários com outro absurdo, nas mesmas proporções medievais do primeiro.

Desta vez, Campos propôs a criminalização da prostituição e de quem usa os serviços das mulheres, cuja profissão é tida como a mais antiga. O Projeto de Lei 377/2011 modifica o Código Penal Brasileiro e torna crime contratar e aceitar a oferta de serviços sexuais. É mais um embate da intolerante bancada evangélica com os deputados progressistas que, ao que parece, para mim, é falta de serviço.
 
Diante disso tudo, fico imaginando como seria a fiscalização do tal ato criminoso. A polícia poderá agir? Quem, na verdade, ficará responsável por conter o crime de prostituição? Como os ‘fiscais’ saberão onde devem fiscalizar? Penso que seria mais ou menos assim: a dona chega à casa do cliente e toca o interfone.

O fiscal que está na esquina vê que a saia está meio curta demais e a maquiagem carregada e a aborda, fazendo os questionamentos de praxe – “O que a senhora faz? O que veio fazer aqui? Quem chamou a senhora?”. Olha a bolsa dela e conta a grana. Ela entra para a empreitada. Do lado de fora, o fiscal encosta no muro e acende um cigarro atrás do outro. Quando a dona sai ele a aborda novamente, pede a bolsa dela, abre e conta o dinheiro. Se tiver mais dinheiro do que quando entrou, o fiscal brada: “Teje presa!”.
 
Depois disso, a dona é algemada. O fiscal oferece um cigarro a ela, como cortesia, já que, antes de ser prostitua é mulher, coloca-a no banco da frente da viatura – se colocar atrás e ele estiver só, podem chamá-lo de taxista; se ela for atrás e houver um motorista na frente, vão dizer que é carro de paulista porque andam dois homens na frente e uma mulher atrás – e seguem para o distrito.

O delegado recebe a dona e faz o B.O. A mulher é encaminhada ao presídio. Mas espera aí... e o cara que contratou os serviços da dona? Quem vai à casa dele fiscalizar se, realmente, o serviço foi feito? E como? Aí deve entrar em cena outro profissional que fará o ‘observatório’ e o sentenciará inocente ou culpado. Neste caso, “teje preso” também!

Rimene Amaral é jornalista e fotógrafo.