quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Não vou “comemorar”


Quando os cabelos brancos extrapolam as madeixas e invadem a barba pelas laterais do rosto, a vida passa a ter outros sentidos. Não damos mais tanta importância às notícias de vizinhos e colegas de trabalho. Os assuntos nas mesas de bar passam a ser projetos para o futuro. Amigos, aqueles verdadeiros, passam a ser parceiros dos nossos sonhos. E como sonhamos mais... Não apenas em ter mais dinheiro, mas em fazer algo que nos traga satisfação.  Eu mesmo era perdulário! Digo isso porque, na semana passada durante ‘aquela faxina’, consegui me desvencilhar de muita coisa que havia comprado e não tinha usado. Em alguns casos, nem me lembrava mais que tinha comprado. Qual não foi a minha surpresa em descobrir que tinha em casa um modelador de hambúrgueres, depois de ter ficado decepcionado, algum tempo atrás, por não ter conseguido comprar algo semelhante em um site de compras? Enfim, muda-se o foco.

Esta semana foi tranquila. Em outros tempos ela teria sido tensa, à procura de lugares especiais, comidas diferentes e bebidas idem que agradariam a uma legião de amigos por um prazo de quatro horas, não mais que isso, que duraria a comemoração do meu aniversário. Farei uma travessa de macarrão, com muito molho, para comer acompanhado de um vinho que não é todo dia que se bebe, ouvirei a música que quiser, no volume acima do normal, quantas vezes eu quiser. E, apesar de não estar em companhia de pessoas que gosto, não me sentirei só. Amizade a gente guarda para todo dia e não apenas para o dia das comemorações.

Vou aceitar todos os abraços, todas as felicitações e cumprimentos. E melhor ainda se vierem acompanhados de presentes. Aí, sim, a felicidade é completa. Mas não farei torta doce ou salgada, não estourarei espumante e não receberei em casa com salgadinhos de festa. Bem diferente dos aniversários de infância, quando minha tia passava o dia preparando um bolo – pão-de-ló com dois recheios: ameixa e abacaxi com doce de leite, coberto com glacê de claras – e, possivelmente, chorando no fim do dia por não ter conseguido fazer da forma como queria. É que, por causa do tempo chuvoso, o glacê não se sustentava em cima do bolo. Mesmo assim, tinha cantoria de parabéns, refrigerantes com gravatas e balas de coco embrulhadas em papel de seda colorido. Ficou a saudade.


Hoje farei do meu aniversário um dia de descanso. E farei somente aquilo que eu quiser fazer e comerei de tudo, sem me lembrar que um dia inventaram algo chamado “dieta”. Vou beber como se não houvesse amanhã – mas sei que haverá! – e me acabarei num prato de macarrão no fim do dia, depois de lanchar a terceira pamonha do ano, à moda, com pimenta e linguiça. Mas não vou me esquecer de ninguém. Apesar de o aniversário ser meu, são os meus amigos que sempre merecem os cumprimentos e meus eternos agradecimentos por estarem sempre ao meu lado, mesmo que no plano virtual. Parabéns a mim, obrigado a todos vocês.

Rimene Amaral, 07 de novembro de 2014