Quando os cabelos brancos extrapolam
as madeixas e invadem a barba pelas laterais do rosto, a vida passa a ter
outros sentidos. Não damos mais tanta importância às notícias de vizinhos e
colegas de trabalho. Os assuntos nas mesas de bar passam a ser projetos para o
futuro. Amigos, aqueles verdadeiros, passam a ser parceiros dos nossos sonhos.
E como sonhamos mais... Não apenas em ter mais dinheiro, mas em fazer algo que
nos traga satisfação. Eu mesmo era
perdulário! Digo isso porque, na semana passada durante ‘aquela faxina’,
consegui me desvencilhar de muita coisa que havia comprado e não tinha usado.
Em alguns casos, nem me lembrava mais que tinha comprado. Qual não foi a minha
surpresa em descobrir que tinha em casa um modelador de hambúrgueres, depois de
ter ficado decepcionado, algum tempo atrás, por não ter conseguido comprar algo
semelhante em um site de compras? Enfim, muda-se o foco.
Esta semana foi tranquila. Em outros
tempos ela teria sido tensa, à procura de lugares especiais, comidas diferentes
e bebidas idem que agradariam a uma legião de amigos por um prazo de quatro
horas, não mais que isso, que duraria a comemoração do meu aniversário. Farei
uma travessa de macarrão, com muito molho, para comer acompanhado de um vinho que
não é todo dia que se bebe, ouvirei a música que quiser, no volume acima do
normal, quantas vezes eu quiser. E, apesar de não estar em companhia de pessoas
que gosto, não me sentirei só. Amizade a gente guarda para todo dia e não
apenas para o dia das comemorações.
Vou aceitar todos os abraços, todas
as felicitações e cumprimentos. E melhor ainda se vierem acompanhados de
presentes. Aí, sim, a felicidade é completa. Mas não farei torta doce ou
salgada, não estourarei espumante e não receberei em casa com salgadinhos de
festa. Bem diferente dos aniversários de infância, quando minha tia passava o
dia preparando um bolo – pão-de-ló com dois recheios: ameixa e abacaxi com doce
de leite, coberto com glacê de claras – e, possivelmente, chorando no fim do
dia por não ter conseguido fazer da forma como queria. É que, por causa do
tempo chuvoso, o glacê não se sustentava em cima do bolo. Mesmo assim, tinha cantoria
de parabéns, refrigerantes com gravatas e balas de coco embrulhadas em papel de
seda colorido. Ficou a saudade.
Hoje farei do meu aniversário um dia
de descanso. E farei somente aquilo que eu quiser fazer e comerei de tudo, sem
me lembrar que um dia inventaram algo chamado “dieta”. Vou beber como se não
houvesse amanhã – mas sei que haverá! – e me acabarei num prato de macarrão no
fim do dia, depois de lanchar a terceira pamonha do ano, à moda, com pimenta e
linguiça. Mas não vou me esquecer de ninguém. Apesar de o aniversário ser meu,
são os meus amigos que sempre merecem os cumprimentos e meus eternos
agradecimentos por estarem sempre ao meu lado, mesmo que no plano virtual.
Parabéns a mim, obrigado a todos vocês.
Rimene Amaral, 07 de novembro de 2014
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