terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Crônicas de Elevador I



A garrafa de sal

Sempre levei em consideração as regras sociais de etiqueta que zelam pela moral e os bons costumes. Uma delas se refere ao silêncio dentro de elevadores. É impressionante, mas quando pressiono o botão para chamar o elevador e ele chega, lembro-me primeiro da regra para depois me lembrar do andar para o qual desejo ser levado. Mas nem todos que estão dentro daquele caixote que sobe e desce tem conhecimento da regra. Não os julgo. Não os culpo. E isso rende, muitas vezes, excelentes histórias. Uma delas aconteceu hoje.
            Gleycienne (nome fictício da personagem) entrou no elevador comigo. Estávamos no térreo e subimos juntos uns bons andares. Nesse período de tempo (e de espaço!) Gley, como acho que ela deveria ser conhecida se o nome fosse esse, puxou assunto com um senhor que, pelo visto, também desconhecia a tal regra para se manter em silêncio quando dentro de elevadores. Ela perguntou a ele sobre como estava a vida e disse ter visto fotos que comprovavam que ele estava em uma pescaria. “Essas fotos são do ano passado”, justificou o pescador. Mas Gley estava a fim de papo e foi adiante: “E como foi a pescaria? Pegou muito peixe?”.
            Respostas iam e vinham e Gley chegou a explicar ao senhor pescador como se fazia um peixe assado com batatas e molho de maracujá. Confesso que já enjoei de peixe com molho de maracujá. Depois da receita, ela ainda deu a dica para servir a iguaria com arroz branco e “uma latinha bem gelada”, se referindo à uma lata de cerveja.
            O mais curioso de tudo isso é que Gley, toda bem vestida e cheirosa (até demais, para o meu gosto) tinha uma espécie de amuleto, no mínimo, perturbador. Pendurado ao pescoço, ela carregava uma garrafinha de sal grosso. Acredito que seria para afastar o “maloiado”, palavra contraída para a expressão “mal-olhado”. Me ative à história do peixe, mas a garrafa de sal pendurada ao pescoço por uma corrente grossa (me parecia ser prata, mas já escurecida), era o alvo do meu olhar curioso.
            Diante da explanação de Gley, o senhor pescador atravessou na conversa e na receita da moça e disse que o peixe que ele gosta de comer é bem mais simples. O pescador olhou bem pra ela, desceu os olhos até o pescoço e disse: “Pra mim, só sal basta! Você mesma poderia ser o tempero!”. Chegou o meu andar e eu saltei. 

sábado, 2 de fevereiro de 2013