segunda-feira, 6 de julho de 2009

Vida de cão


Foi uma noite inteirinha, e se estendeu ao dia com sol já alto. Um cachorro, da raça dálmata – pelo menos era o que se podia enxergar de onde eu estava – latia desesperadamente, já quase sem forças. O fato acontecia no quinto anadar do prédio que fica do outro lado da rua onde moro. Trancado em uma sacada de aproximadamente 2,0m X 1,0m o pobre uivou a noite inteirinha, sem qualquer esperança de que alguém pudesse tomar alguma atitude. O sono da vizinhança (o que para mim era o de menos naquele momento) havia sido comprometido seriamente.

Bem, ao acordar, fui procurar de onde vinham aqueles latidos tão sofridos. Doídos, mesmo! Pela minha sacada notei que os vizinhos dos prédios da redondeza estavam todos indignados com a situação. O pobre do cão trancado, arranhava a porta de vidro da sacada, numa tentativa desesperada e frustrada de entrar em casa. Provavelmente sem qualquer tipo de cuidado, ele ainda ficou ali por horas. Uma senhora do prédio ao lado, disse que não aguentava mais o sofrimento do cão e o barulho. Tentei fazer o que sempre faço nesses casos. Já que alguém tem que tomar uma providência, que seja eu.

Pela internet, encontrei o site da Associação Protetora e Amiga dos Animais. Muitos telefones! Para denúncia, também tinha um: 197. Liguei. Do outro lado atendem: “Polícia Civil”, a voz de uma moça se identifica. Disse a ela que tinha encontrado esse telefone no site da Associação e expliquei o caso. A resposta foi instantânea, como se já fosse de praxe, algo decorado: “Senhor, não podemos invadir o apartamento!”. Bem, isso eu já sabia. “E o qual a orientação que você pode me dar?”, perguntei. “Olha, você tem que ficar de olho e ter a certeza de que o cão esteja sendo maltratado”, me disse a voz. Fiquei sem entender. “Quer dizer que um cachorro trancado em uma sacada, de pouco mais de um metro quadrado, latindo por mais de 12 horas ininterruptas não é considerado mau-trato?”, indaguei e ela disse que nesse caso não podia fazer nada.

Liguei para uma moça que trabalha na Associação Protetora e Amiga dos Animais. Ela me orientou a ligar na Delegacia do Meio Ambiente – a Dema. Outra voz feminina, por nome de Vânia atende e, depois que explico o fato, ela me diz que a Polícia Civil está em greve. Fiquei mudo. Mas insisti e a voz saiu. Ela me disse, então, que era pra eu ter a certeza de que o animal estivesse sendo judiado. Gente, ficar trancado na sacada esse tempo todo não é ser judiado? E pelo tanto que o cão latiu, a noite inteira, não é possível que tenha alguém naquele apartamento. “O que muitas vezes acontece”, me disse a moça, “é que os donos viajam e deixam o cão sozinho e trancado. Mas isso não significa que ele não tenha água e comida”, me disse ela tentando amenizar a situação.

Bem, diante do fato, fazer o que? Não serei eu a invadir um apartamento e resgatar um cão trancado numa sacada. Saí de casa e o cão ainda tentava qualquer tipo de contato com o interior do apartamento. O latido dele agora, estava só um uivo triste e rouco. Provavelmente no fim do dia aquilo não estaria mais acontecendo. De estresse ou de fome o temor do cão seria cessado pela morte!

Um comentário:

Cássia disse...

Que horror! Que coisa mais triste! Pior é que já vi esse filme. Ninguém pode fazer nada. Mas depois conta o que aconteceu, se o cachorro ainda continua lá.