2 de julho de 2010. Hoje meu pai faz 66 anos; 62 deles vividos entre nós, os mortais. Então, dia de lembrar de mais uma das dele. Exclusividade era o que não faltava. Pérolas, até! Como foi, num sábado, a aventura de encorporar um baiano e fazer acarajé. Magina se ele não iria tentar!
Feijão de molho, como manda o figurino, e cascas soltas, como dita a receita. Hora de fazer a massa e acrescentar os tempeiros. Pela receita, apenas sal. Pouco sal! Mas, meu pai tinha um tino culinário que surpreendia. Isso já fez com que ele inventasse o sanduíche de pão de queijo e um bauru com molho tártaro, que era de se comer ajoelhado, pedindo perdão eterno a Deus pelo pecado da gula. Bem, e lembrando de tais iguarias, todos aceitaram quando ele se propôs a mudar a receita do acarajé, acrescentando alho à massa.
Como tinha muito feijão, imaginava-se, é claro, que a quantidade de tempeiro também tinha que ser bastante. Três cabeças de alho eram suficientes. “Como assim? Não tem alho na receita!”, bradou minha mãe, uma baiana legítima de 1,49m de altura e toda dona da situação. Sem pestanejar, meu pai retrucou com uma – que depois passaria a ser uma de suas pérolas! – expressão: “Alho nunca passa!”. Depois dessa, todo mundo se calou e a massa do acarajé foi devidamente temperada. Ainda teve espaço para aquela pimentinha básica, condimento inseparável quando papai era o dono da cozinha. E não raras eram as vezes.
Três cabeças de alho já tinham sido esmagadas. Dente a dente! De uma só vez, ele jogopu a pasta de alho à massa e misturou vigorosamente, também como manda a receita. Provou e achou que ainda estava faltando algo. “Tá meio sem graça, ainda”, disse ele com o dedo na boca ainda sujo da massa de feijão cru, sal, alho e pimenta. Pronto, coloca mais alho, afinal de contas ‘alho nunca passa’!
Colher de pau mexia e dendê esquentava no tacho. Aos poucos os bolinhos foram fritando... o cheio me remetia à terra de todos os santos. À baía de todos eles, pra ser mais exato. O cheiro era inexplicável. Podia ouvir os atabaques e até o Olodum descendo a ladeira do Pelô! Cervejinha vinha... cervejinha ia... e sai a primeira remessa de acarajé. Pelo menos dos bolinhos. Primeira mordida e... e... Alho puro! Não tinha gosto de outra coisa, senão alho! Só alho. Fritamos mais uns. Daío gosto modificou. Alho encorpado. Quanto mais o tempo passava, mais o alho encorpava à massa. Bem... o caruru, o camarão seco e o vatapá foram comidos com arroz e vinagrete. O acarajé, de verdade, ficou pra um outro dia. Mas na próxima vez papai já tinha uma nova ‘expressão’ que também viraria uma pérola – até hoje!: “Tá bom. Alho nunca passa. Só no acarajé!”.
E o acarajé cheio de alho faz falta.
Beijos. Onde quer que esteja... FELIZ ANIVERSÁRIO!
Feijão de molho, como manda o figurino, e cascas soltas, como dita a receita. Hora de fazer a massa e acrescentar os tempeiros. Pela receita, apenas sal. Pouco sal! Mas, meu pai tinha um tino culinário que surpreendia. Isso já fez com que ele inventasse o sanduíche de pão de queijo e um bauru com molho tártaro, que era de se comer ajoelhado, pedindo perdão eterno a Deus pelo pecado da gula. Bem, e lembrando de tais iguarias, todos aceitaram quando ele se propôs a mudar a receita do acarajé, acrescentando alho à massa.
Como tinha muito feijão, imaginava-se, é claro, que a quantidade de tempeiro também tinha que ser bastante. Três cabeças de alho eram suficientes. “Como assim? Não tem alho na receita!”, bradou minha mãe, uma baiana legítima de 1,49m de altura e toda dona da situação. Sem pestanejar, meu pai retrucou com uma – que depois passaria a ser uma de suas pérolas! – expressão: “Alho nunca passa!”. Depois dessa, todo mundo se calou e a massa do acarajé foi devidamente temperada. Ainda teve espaço para aquela pimentinha básica, condimento inseparável quando papai era o dono da cozinha. E não raras eram as vezes.
Três cabeças de alho já tinham sido esmagadas. Dente a dente! De uma só vez, ele jogopu a pasta de alho à massa e misturou vigorosamente, também como manda a receita. Provou e achou que ainda estava faltando algo. “Tá meio sem graça, ainda”, disse ele com o dedo na boca ainda sujo da massa de feijão cru, sal, alho e pimenta. Pronto, coloca mais alho, afinal de contas ‘alho nunca passa’!
Colher de pau mexia e dendê esquentava no tacho. Aos poucos os bolinhos foram fritando... o cheio me remetia à terra de todos os santos. À baía de todos eles, pra ser mais exato. O cheiro era inexplicável. Podia ouvir os atabaques e até o Olodum descendo a ladeira do Pelô! Cervejinha vinha... cervejinha ia... e sai a primeira remessa de acarajé. Pelo menos dos bolinhos. Primeira mordida e... e... Alho puro! Não tinha gosto de outra coisa, senão alho! Só alho. Fritamos mais uns. Daío gosto modificou. Alho encorpado. Quanto mais o tempo passava, mais o alho encorpava à massa. Bem... o caruru, o camarão seco e o vatapá foram comidos com arroz e vinagrete. O acarajé, de verdade, ficou pra um outro dia. Mas na próxima vez papai já tinha uma nova ‘expressão’ que também viraria uma pérola – até hoje!: “Tá bom. Alho nunca passa. Só no acarajé!”.
E o acarajé cheio de alho faz falta.
Beijos. Onde quer que esteja... FELIZ ANIVERSÁRIO!
8 comentários:
Eu me lembrei do aniversário ontem. E antes de dormir, como diriam os franceses, je l'ai fait une petite pensée. Dediquei a ele um dos meus pensamentos...o melhor deles.
Tenho certeza que ele recebeu...
um beijo
Cynthia
Oi primo. Também dediquei um pensamento a ele. em portugues mesmo.
Beijos.
Tenho certeza que o TIO continua fazendo as suas receitas em um lugar de mta paz, harmonia e felicidade, onde outros, assim como nós, terão o prazer de tê-lo como compania e de poder provar suas invenções....infelizmente ELE só ficou 62 anos aqui nesse mundo, mas uma PESSOA tão boa e com tantas qualidades precisa visitar "outros mundos" para poder ser exemplo e ser copiada cada vez por mais pessoas para que o mundo se torne cada vez melhor. TIO, sentimos muito a sua falta, mas somos orgulhosos de ter participado, pelo menos um pouquinho, dos seus dias de vida aqui na Terra e agradecidos por ter nos ensinado, pelo menos um pouquinho, como devemos viver aqui!
PARABÉNS!!!!!!
Vi direitinho a cena dele dizendo que alho nunca passa, noutras aventuras culinárias! Hilário. Eu me lembro da gente na cozinha, dando palpites e vc cozinhando... Seu Delcides, um homem querido e abençoado. Seus 62 anos valeram em dobro sua existência. Beijos.
Estou rindo de tanto Alho que meu padrinho gostava kkkkk
lembrei-me do Sarapatel que comi um dia na sua casa feito por ele , até hoje Rimene, nunca comi de novo aquela delícia de sarapatel que só ele sabia fazer com muito alho é claro e bastante pimenta. Beijos
Parabéns padrinho sinto a sua falta .NIVEA AMARAL
Linda homenagem, Misifio. Com seu pai certamente você desenvolveu o gosto por fazer comidinhas deliciosas e divertidas, sempre acompanhadas de uma boa e alegre bebidinha. Assim, toda vez que cozinhar para nós, mortais amigos, vai se lembrar de seu querido e divertido pai. Ou seja, ele sempre estará com você.
Eu me lembro de uma história sua muito parecida com a do seu pai. Sábado à tarde, em Nova Veneza, você convence a tia Vânia de te ajudar a fazer Papo de Anjo. Você pega a receita, começa a preparar a calda e diz que aquela quantidade de açúcar não era suficiente. Na mesma filosofia do 'Alho nunca passa', você criou a do 'Açúcar nunca passa'. Resultado: as primeiras massinhas feitas com 12 ovos começam a cair na calda quente...e ao invés de boiarem, elas afundam na panela. Papos de anjo oleoooosos, mas todos devorados e feitos com muita risada!!!!!
He, amei o texto (já tinha lido, antes), mas fiquei pensando aqui com meus botões, vc não guardou essa receita do sanduíche não???
Beijos!
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