terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Cai a tarde

estranho dizer este: cai a tarde!
mas são os sonhos que estão a cair

o último pio da ave avisa: cai a tarde!
mas ninguém percebe o olfato a se perder

somos todos estranhos nesta tarde
e ela se vai porque não nos quer mais ver

não nos querem mais os jasmins, as glicínias
os amores perfeitos, os beijos e as margaridas

estranho, mas é verdade: cai a tarde
vai decompondo suas pétalas feridas

onde foi parar o grande pé de pitanga
vizinho da janela e do meu sorriso vespertino?

em qual fogueira foi arder a jabuticabeira
pretos frutos na palavra molhada do meu filho?

cai a tarde, como é estranho dizer
mal-me-queres, onze horas e orquídeas, onde estão?

cai a tarde e em profunda solidão caio em mim
já vou tarde com lembranças encontrar a noite

estranha tarde esta, parceira da imprudência
tijolada sem aviso fabricando prisioneiro grito

estranho dizer este: cai a tarde!
tristeza transatlântica a me levar a um mar escuro

cai a tarde e tudo parece estar no limite do fim
até parece que estou despedindo-me de mim

Tonicato Miranda

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