estranho dizer este: cai a tarde!
mas são os sonhos que estão a cair
o último pio da ave avisa: cai a tarde!
mas ninguém percebe o olfato a se perder
somos todos estranhos nesta tarde
e ela se vai porque não nos quer mais ver
não nos querem mais os jasmins, as glicínias
os amores perfeitos, os beijos e as margaridas
estranho, mas é verdade: cai a tarde
vai decompondo suas pétalas feridas
onde foi parar o grande pé de pitanga
vizinho da janela e do meu sorriso vespertino?
em qual fogueira foi arder a jabuticabeira
pretos frutos na palavra molhada do meu filho?
cai a tarde, como é estranho dizer
mal-me-queres, onze horas e orquídeas, onde estão?
cai a tarde e em profunda solidão caio em mim
já vou tarde com lembranças encontrar a noite
estranha tarde esta, parceira da imprudência
tijolada sem aviso fabricando prisioneiro grito
estranho dizer este: cai a tarde!
tristeza transatlântica a me levar a um mar escuro
cai a tarde e tudo parece estar no limite do fim
até parece que estou despedindo-me de mim
Tonicato Miranda
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
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