Um belo dia abro a minha caixa de
correio e encontro uma correspondência do DETRAN-GO. “Olha, que coisa mais
simpática! Meu Departamento de Trânsito me enviando correspondência!”, pensei.
Não. Não era! Eram dois boletos para pagamento parcelado do meu IPVA, licenciamento
e todos esses impostos adoráveis que nós brasileiros pagamos. “Que bom. Será
mais fácil quitar o tributo. Mas onde está a terceira parcela?”, questionei.
Bem, fiquei sabendo mais tarde que a terceira parcela chegaria para mim, também
como correspondência, quando as duas primeiras fossem pagas. Olha só que coisa
bem feita. De primeiro mundo!
Duas parcelas pagas e eis que recebo
a terceira. Estava lá na minha caixa de correios como da primeira vez. Fiquei
emocionado com a presteza do DETRAN-GO. Daí bateu a dúvida: como eu deveria
fazer para pegar o meu documento, depois que pagasse a terceira parcela? Fui
atrás e fiquei sabendo que eu receberia o documento também pelos Correios. Que
emoção, gente! Mas o último atendente me alertou: “É preciso que haja alguém em
casa para receber o documento!”. Pára tudo! Quer dizer que quem mora só e
trabalha o dia todo não pode receber o documento em casa? Como é isso? Uma
nuvem começou a se formar e voltei ao telefone à procura de informações. Após ligar
quatro vezes para o número 154 – onde a certeza não impera nem sobre a questão
de fome e sede de cada um dos atendentes – tentei mais uns oito números. Cada um
que atendia me deixava, em média, 10 minutos esperando para tentar encontrar a
resposta. Mas ninguém soube me dizer como eu deveria agir.
Finalmente a resposta veio depois que
procureioutras pessoas que trabalham no órgão e se condoeram com a minha preocupação.
Era assim: eu deveria desconsiderar o boleto para pagamento da terceira parcela
que havia recebido em casa e retirar outro através do site do DETRAN-GO. Assim,
segundo as informações, eu pagaria a última parcela na Caixa Econômica Federal
(CEF), que fica dentro do Vapt-Vupt e já pegaria meu documento. Ufa! Fui lá e o
fiz.
Dia 15. Vencimento do tal documento.
Aproveito o horário de almoço para resolver as pendências. Como não sou cliente
da CEF, enfrento uma fila no meu banco para sacar o valor em dinheiro,
contadinho da Silva, inclusive os 56 centavos em moedas, e rumo para o
Vapt-Vupt onde pagaria, já pegaria meu documento, voltaria ao trabalho e todos
ficariam felizes para sempre, até o próximo ano. Vã ilusão!
12h53 entro na fila. “O sistema está
fora do ar!”, grita a mulher de uniforma azul lá na frente. Paciência. É a
única hora que tenho. Vamos esperar. 13h15. O sistema volta a funcionar. Chega
a minha vez. “Senhora, preciso de uma senha para o banco também ou apenas para
pegar o documento no DETRAN depois que eu pagá-lo?”. Ela me olhou, olhou para o
documento, me fitou nos olhos e disse: “Com esse boleto retirado no site, você
só vai poder pegar o seu documento em três dias!”. Meus olhos se encheram de
sangue. Meu coração disparou. Senti um amargo nunca dantes provado invadir
minha boca. Contei até um milhão em menos de cinco segundos. Respirei. Acima de
mulher, num cartaz, lia-se algo do tipo: desacatar funcionário público em sua
função poderia ser pior!
Respirei de novo. Profundamente,
desta vez. “E como eu devo fazer, senhora, para que eu pegue o meu documento
hoje e não precise voltar aqui e enfrentar tudo isso de novo?”, perguntei. Pelo
que ela me disse, eu teria de pegar uma senha, esperar ser chamado, retirar um
outro boleto – que vi, era exatamente igual ao que eu tinha nas mãos –, ir até
a agência bancária, pagar, voltar, pegar mais uma senha, esperar ser chamado e,
finalmente, depois de findado o dia e a paciência, estaria de posse do meu
documento. Não acreditei. Mas peguei a tal senha. Número 231. O visor chamava a
de número 190. 40 minutos depois, resolvi ir ao banco pagar o que eu tinha na
mão e voltar no fim da semana, de posse de um pouco mais de paciência. A senha
chamada ainda era a 214. Banco fechado. Me encaminharam para uma casa lotérica.
Documento pago. Agora é aguardar a sexta-feira chegar e enfrentar, mais uma
vez, os serviços mal oferecidos do DETRAN-GO, com sangue nos olhos e fel nas
veias. E sorrindo ou ainda posso ser preso por desacato.
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