Nada de viagens longas, de amuar na
casa de desconhecidos – e pouco, na casa de conhecidos –, nada de malas que
ultrapassassem o tamanho suficiente para duas calças, cinco camisas, lenços,
meias e cuecas... Mesmo sendo uma das companhias mais agradáveis em quaisquer
circunstâncias, meu pai sempre foi muito caseiro. Gostava de receber, de casa
cheia, de movimentação. Mas havia lugares e datas sagradas para receber a visita
dele. E, claro, aonde chegava conquistava seus espaços. Um deles era a cozinha.
Falar que papai cozinhava bem é
chover no molhado. Isso todo mundo já sabe. Até quem não o conheceu. E, acima
de tudo, não usava mais que uma meia dúzia de ingredientes e muita, mas muita
simplicidade, como em tudo que fazia e no jeito de viver. Papai gostava de
arroz moreno, feito na mesma panela que fitara a carne ou a linguiça. Gostava
de farofa de pimenta godê, de abobrinha batida, de molho de quiabo com jiló –
que ele nomeou de “molho verde” –, e de chuchu. E como gostava de chuchu. Da
forma mais simples: alho, sal, pimenta, água e chuchu. Só! Uma comida das mais
inocentes e, ouso dizer, mais sem sentido. Chuchu é o quarto estágio da água.
Mas quem comia o chuchu que papai fazia, jamais olharia para o vegetal
novamente com o mesmo olhar.
Pois bem... Numa das poucas viagens
que meu pai fez que não fosse para Bahia – segunda terra-natal dele por escolha
própria – a cozinha também foi um dos cantos mais frequentados da casa dos
sobrinhos-compadres, Lena e Tadeu, em Vitória, no Espírito Santo. Durante a
temporada, muita comilança, como não poderia deixar de ser. Comida baiana – já
que a casa era de baiana –, muita moqueca, frutos do mar, cerveja... Uma
infinidade de comidas, diríamos, de peso. De muito peso. O que, sem novidade,
agravaria a função do fígado e faria com que todos, depois de uns dias,
passassem a uma dieta mais leve. Papai nas rédeas do fogão não permitia isso.
No dia da volta para casa, papai
acordou cedo e se enveredou na cozinha. Lembrando que os ânimos e a digestão
ainda estavam prejudicados e, levando em consideração que passaríamos metade do
dia em voos e aeroportos, era melhor preparar algo leve. Eis que surge o
chuchu, mas numa versão “hard”, com muita pimenta. Foi aí que papai e todas as
outras pessoas que conheciam a história passaram a chamar o chuchu de
“perigoso”, numa clara evidência de contrassenso, depois de passar dias de
enfarando de verdadeiras bombas em forma de comida. Riram todos, de soluçar,
quando ele apresentou o prato de chuchu e disse: “Tenho medo de comer isso, já
que vamos voar. Mas comeremos com calma porque isso aqui é perigoso!”.
Pelo chuchu, pelas viagens, pela
simplicidade e pelas conquistas... Feliz Dia dos Pais ao meu pai!
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