sexta-feira, 28 de novembro de 2008

O Parto – Vingança


Casamos novos. Ela com 19 e eu com 20 anos de idade. Lua-de-mel, viagens, mobílias na casa alugada, prestações da casa própria e o primeiro bebê.

Anos oitenta e a moda era ter uma filmadora do Paraguai. Sempre tinha um vizinho ou amigo contrabandista disposto a trazer aquela muambazinha por um preço módico.

Ela tinha vergonha, mas eu desejava eternizar aquele momento. Invadi a sala de parto com a câmera no ombro e chorei enquanto filmava o parto do meu primeiro filho.

Todo mundo que chegava lá em casa era obrigado a assistir ao filme. Perdi a conta das cópias que fiz do parto e distribuí entre amigos, parentes e parentes dos amigos. Meu filho e minha esposa eram os meus orgulhos.

Três anos depois, novo parto, nova filmagem, nova crise de choro...

Como ela categoricamente disse que não queria que eu filmasse, invadi a sala de parto mais uma vez com a câmera ao ombro . As pessoas que me conhecem sabem que havia apenas amor de pai e marido naquele ato.

O fato de fazer diversas cópias da fita era apenas uma demonstração de meu orgulho. Nada que se comparasse ao fato de ela, essa semana, invadir a sala do meu urologista, câmera ao ombro, filmando o meu exame de próstata. Eu lá, com as pernas naquelas malditas perneiras, o cara com um dedo (ele jura que era só um!) quase na minha garganta e minha mulher gritando:
- Ah! Doutoor! Que maravilha! Vou fazer duas mil cópias dessa fita! Semana que vem estou enviando uma para o senhor!

Meus olhos saindo da órbita a fuzilaram, mas a dor era tanta que não conseguia falar. O miserável do médico girou o dedo e eu vi o teto a dois centímetros do meu nariz. A mulher continuou a gritar, como um diretor de cinema:

- Isso, doutor! Agora gire de novo, mais devagar. Vou dar um close agora...

Alcancei um sapato no chão e joguei na maldita.

Agora, estou escrevendo este e-mail, pedindo aos amigos que receberem uma cópia do filme, que o enviem de volta para mim. Eu pago o reembolso. (Luiz Fernando Veríssimo)

Enviado por Isabela Oliveira – a IsaOli das Bijouterias. Aaqui, amigos ainda têm jabá!

3 comentários:

Jacq disse...

que vingança essa heim!!!

Jacq disse...

rimene manda essa pra Paula Dedinhos!!!!

Anônimo disse...

Adoro o Luís Fernando Veríssimo! Não conhecia esse texto! Adorei denovo!