Se ainda não tivesse virado meu anjo da guarda, hoje meu pai completaria 65 anos de uma vida cheia de alegrias e invenções produtivas, de muita graça, de muitas boas atitudes e de um senso de justiça inigualável. É nessas datas que paramos pra pensar mais forte e lembrar dos maravilhosos momentos que marcaram minha vida ao lado dele. Um desses momentos, compartilho com vocês...
Era sábado de manhã. O friozinho leve e agradável me fez querer ficar mais tempo na cama, mas uma movimentação lá fora me chamou a atenção. Levantei-me e vi meu pai com uma vara de bambu, de aproximadamente três metros, passando-a pelas chamas de um fogareiro improvisado. “O que é isso?”, perguntei curioso e papai ergueu os olhos, sorrindo de lado e me disse: “um controle remoto”. Minha mente vagou procurando uma relação entre o bambu e a alta tecnologia, cara, para os padrões da época.
“O fogo”, dizia ele, “é para ressecar o bambu para que ele não envergue e evitar rachaduras, quando ressecar”, explicou-me ele. Papai tinha um tino para invenções que poderia deixar Professor Pardal de cabelos em pé. E eu, mais que orgulhoso e curioso, comecei a especular sobre o tal controle remoto.
Tínhamos um aparelho televisor, com sintonia de canais digital. Bastava um toque para que o canal mudasse. O problema é que o sofá de veludo verde, estrategicamente colocado em frente a uma mesinha de centro, ficava também em frente à TV, no canto esquerdo da sala, era muito longe. À noite, no intervalo do Jornal Nacional, papai sempre mudava de canal para ver o noticiário das outras emissoras. Mas ficar levantando sempre era algo que o incomodava. Na época, comprar um televisor novo – e com controle remoto – não era pra qualquer um.
Mas ainda não havia entendido como ele faria de uma vara de bambu, um controle remoto para a TV. Com uma caneca de café com leite na mão, sentei-me do degrau da escada que ia para o quintal. E ele começou a me explicar, como sempre fazia e adorava fazê-lo. “Se você olhar bem vai ver que tem um buraquinho na ponta da vara. Aí, bem aí, será colocado um pedacinho de ‘bombril’ para fazer o contato entre as duas extremidades do interruptor digital da TV”, ele explicava como se estivesse dando uma aula de engenharia no ITA. “Do meu sofá, conseguirei mudar de canal e, com alguma destreza, poderei mexer no volume e nas cores da TV”.
Fiquei pasmo com a inteligência simples dele. E ele era assim mesmo. Dava jeito pra tudo que, aparentemente não tinha jeito! Ele era engenheiro, arquiteto, eletricista, encanador... era cozinheiro de mão cheia – acredito que venha daí a minha paixão pela cozinha – chamado para os quatros cantos quando o assunto era pirão de peixe ou de galinha, moqueca e churrasco. A partir dali, surgiu mais uma qualidade: papai era também um inventor. De coisas simples, mas práticas, que facilitavam nossas vidas dia-a-dia.
Bem, com o tal ‘controle remoto’ pronto, foi a hora do teste. Ele se sentou na poltrona verde, tirou os sapatos, estendeu a perna na mesa de centro e fez o serviço completo. De primeira, ligou a TV, mudou de canal, aumentava e abaixava o volume dela... tudo com uma vara de bambu e um pedacinho de Bombril na ponta.
O invento foi motivo de várias peregrinações de vizinhos e risadas lá em casa. Vinha gente da cidade inteira conhecer o controle remoto que meu pai fez de bambu. Era uma piada para todos nós, mas era também um grande orgulho de ter em casa, ao lado de mim, alguém que pudesse fazer coisas tão perfeitas, partindo da simplicidade que sempre foi a bandeira do meu pai.
Onde estiver, Feliz Aniversário!
Era sábado de manhã. O friozinho leve e agradável me fez querer ficar mais tempo na cama, mas uma movimentação lá fora me chamou a atenção. Levantei-me e vi meu pai com uma vara de bambu, de aproximadamente três metros, passando-a pelas chamas de um fogareiro improvisado. “O que é isso?”, perguntei curioso e papai ergueu os olhos, sorrindo de lado e me disse: “um controle remoto”. Minha mente vagou procurando uma relação entre o bambu e a alta tecnologia, cara, para os padrões da época.
“O fogo”, dizia ele, “é para ressecar o bambu para que ele não envergue e evitar rachaduras, quando ressecar”, explicou-me ele. Papai tinha um tino para invenções que poderia deixar Professor Pardal de cabelos em pé. E eu, mais que orgulhoso e curioso, comecei a especular sobre o tal controle remoto.
Tínhamos um aparelho televisor, com sintonia de canais digital. Bastava um toque para que o canal mudasse. O problema é que o sofá de veludo verde, estrategicamente colocado em frente a uma mesinha de centro, ficava também em frente à TV, no canto esquerdo da sala, era muito longe. À noite, no intervalo do Jornal Nacional, papai sempre mudava de canal para ver o noticiário das outras emissoras. Mas ficar levantando sempre era algo que o incomodava. Na época, comprar um televisor novo – e com controle remoto – não era pra qualquer um.
Mas ainda não havia entendido como ele faria de uma vara de bambu, um controle remoto para a TV. Com uma caneca de café com leite na mão, sentei-me do degrau da escada que ia para o quintal. E ele começou a me explicar, como sempre fazia e adorava fazê-lo. “Se você olhar bem vai ver que tem um buraquinho na ponta da vara. Aí, bem aí, será colocado um pedacinho de ‘bombril’ para fazer o contato entre as duas extremidades do interruptor digital da TV”, ele explicava como se estivesse dando uma aula de engenharia no ITA. “Do meu sofá, conseguirei mudar de canal e, com alguma destreza, poderei mexer no volume e nas cores da TV”.
Fiquei pasmo com a inteligência simples dele. E ele era assim mesmo. Dava jeito pra tudo que, aparentemente não tinha jeito! Ele era engenheiro, arquiteto, eletricista, encanador... era cozinheiro de mão cheia – acredito que venha daí a minha paixão pela cozinha – chamado para os quatros cantos quando o assunto era pirão de peixe ou de galinha, moqueca e churrasco. A partir dali, surgiu mais uma qualidade: papai era também um inventor. De coisas simples, mas práticas, que facilitavam nossas vidas dia-a-dia.
Bem, com o tal ‘controle remoto’ pronto, foi a hora do teste. Ele se sentou na poltrona verde, tirou os sapatos, estendeu a perna na mesa de centro e fez o serviço completo. De primeira, ligou a TV, mudou de canal, aumentava e abaixava o volume dela... tudo com uma vara de bambu e um pedacinho de Bombril na ponta.
O invento foi motivo de várias peregrinações de vizinhos e risadas lá em casa. Vinha gente da cidade inteira conhecer o controle remoto que meu pai fez de bambu. Era uma piada para todos nós, mas era também um grande orgulho de ter em casa, ao lado de mim, alguém que pudesse fazer coisas tão perfeitas, partindo da simplicidade que sempre foi a bandeira do meu pai.
Onde estiver, Feliz Aniversário!
16 comentários:
SIMPLISMENTE BELO! EMOCIONANTE!
Engraçado como os Amarais são tão parecidos e tão diferentes! Lendo as histórias de tio Delcides, inventor, bom cozinheiro, esperto, comunicativo, inteligente e curioso - e que era cabeludo - fui mesclando com as lembranças do meu pai! Bem parecido com ele, só que careca!
Que belo registro, que bela história! Que boa vida vivida!
Rimene,
Meu pai fez isso uma vez, com cabo de vassoura. Amo você lindo!
Muito lindo, Rimene! É isso mesmo, precisamos guardar estas lembranças boas que tanto ajudam a amenizar a saudade...Feliz aniversário pra ele!!!Um beijo grande!!!Vou colocar um link do seu blog no meu!
Oi Riiiii!!! Que história linda!!! Eu, que não conheci o Tio Delcides, também posso dizer que tenho lembranças boas dele!!!rsrsrs Isso de tanto ouvir histórias como essa, contadas por você, Lena, Bru...
Não tendo o conhecido, posso dizer que de tudo de bom que ele deixou, VOCÊ é um legado maravilhoso!!
Beijo enorme! Parabéns, Tio Delcides!
Que lindo, Misifio! Parabéns para ele e para você, que fez tão bela homenagem.
Ter um filho como vc vale muito à pena ter vivido, porque as lembranças continuam no seu coração, diariamente, que eu sei.
Pai bondoso, filho amoroso.
Amo vc...
Marilena
Nossa, lendo esse texto vi tb um pouquinho do meu pai!!! Ao mesmo tempo minha infância na casa do Tio Delcides e sua varinha controle na sala! Me lembro muito disso...
Rimene seu pai me chamava de portuga e eu a ele também, ele era um homem muito inteligente, extremamente bom caráter e de um coração enorme, adorava ajudar as pessoas, ele e minha mãe com certeza devem estar fazendo travessuras no céu...contando piadas e dando muitas risadas!!!!!
Lindo texto, linda homenagem!
que lindo amei!!!!beijos adoro-te sempre
Thaina
Me lembrei de cada detalhe....do sofá verde, da escadinha que dá para o quintal...faz parte da minha infância!!!muita saudade!!!!
Ri,me emocionei muito com a sua homenagem lindoooo!!!!
Que saudade
Ri,me emocionei muito lendo sua linda homenagem.Que saudades sinto desse nosso tio maravilhoso,estará para sempre vivo em nossas mentes e em nossos corações.
Beijos te amo muito meu compadrinho.
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Lindo...lindo...
demorei mas li!!!
beijos
Que figura o seu pai! Isso torna a saudade ainda mais doce...
Bjão
lindddooooooo!!!! Te adoro!!!
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