sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Pérolas da noite

E enquanto as pérolas falsas enrolavam no pescoço de uma qualquer, usando outras joias baratas, roupa de feira malacabadas e cabelos cheios de laquê, alguém se contorcia numa cama de motel, revirando-se pelo calor do corpo e da alma. Lavada, diga-se!, de suor. Na noite escura, visível de costas apenas pela silhoueta desenhada pela luz do poste, vagava ela sem destino e sem rumo, bêbada, drogada e faminta. Saciada, de todos os tipos de comida, num quarto refrigerado numa cama macia com lencóis de seda, uma taça de espumante era a única companhia e o perlage o único que ainda subia. Ali do lado, a água do chuveiro caía sobre outro corpo cansado, antes suado, e reavivava forças para uma noite que parecia estar apenas começando. Na rua, o suor escorria cada vez mais torrencial, na noite abafada que prometia ficar ainda mais quente. Mas antes mesmo que o sol desse o ar da graça, cada uma delas estaria em seu leito, imundo que fosse, fétido, mas seguras das sensações. Nem perlage subiria mais. As pérolas falsas ficaram pelas ruas e derrubariam muitas outras, enquanto a vida seguia... redonda... como as pérolas falsas!


Rimene Amaral