Nunca fui de me enfurnar numa agência bancária, a não ser que
houvesse necessidade. Já tive problemas com sites de bancos por causa de
transações feitas pela internet. Então, por isso mesmo, gato escaldado... Mas
ainda me sobra o bankfone, do Banco Itaú! Uma maravilha. Posso pagar as minhas
contas todas pelo telefone. Sempre fiz isso. Agiliza e evita tumulto nas
agências. Sou a favor disso. Mas não quer dizer que seja uma regra! É uma
opção, diga-se. (O caixa ainda continua sendo caixa e, pela lei brasileira,
qualquer cidadão pode se dirigir ao caixa para efetuar qualquer serviço de
banco!). Depois de todo pagamento, a moça do outro lado da linha perguntava
como eu gostaria de receber o meu comprovante de pagamento. “Pelos Correios”,
eu informava. Em sete dias, recebia o documento comprobatório e o colocava
naquela caixinha de comprovantes. Ali ele ficará por cinco anos. É assim que
ensinam. Mas esta opção não existe mais. Segundo os atendentes, é a política de
economia e sustentabilidade do Banco Itaú, para evitar o desperdício de papel e
aumentar a segurança de documentos (?). Quer dizer que antes esse tipo de
atitude, de enviar documentos pelos Correios, era inseguro? Bem, mas se a política
do banco é assim para ajudar o meio ambiente, vamos aceitar. É bonito ver cada
um fazendo a sua parte. Recebo o comprovante agora por e-mail. Mas... Daí vem o
paradoxo!
Fiquei surpreso ao saber que o Banco Itaú (um dos mais
lucrativos do Brasil nos últimos anos) não autentica (ou chancela) mais os
documentos pagos no caixa. O cliente recebe apenas um tíquete, em papel
térmico, cuja durabilidade não ultrapassa um ano! Mas o Banco Itaú deu um
jeitinho e, se você fizer tudo que seu mestre mandar, ele vai durar sete anos. Perguntei
para meio mundo sobre o por quê disso e as respostas foram as mais variadas.
Nenhuma delas me convenceu! Até disseram (o gerente de outra agência que não a
minha) que era uma norma do Banco Central. Não é! Conversei com o meu gerente,
da Agência Personnalité, e ele me tranquilizou dizendo que a agência em que
movimento a minha conta faria, sim, a tal chancela no boleto de pagamento ou no
papel que o valha. Mas não foi assim! Deram-me o tal papelzinho amarelo como
comprovante e eu ainda pedi para que o rapaz do caixa fizesse uma fotocópia dos
tais (eles até recomendam isso) para grampear junto aos documentos. Trabalho
dobrado e triplicado. Não é isso?
Bem, vale ressaltar que a minha ‘bronca’ é devido à qualidade
do papel em que é impresso a comprovação do pagamento. O papel termo-sensível,
também usado nos extintos aparelhos de fax, varia de acordo com a temperatura e
com o tempo. Em aproximadamente um ano tudo o que foi impresso, apaga.
Simplesmente apaga! E todo mundo sabe disso. Se reclamo, é porque já tive
problemas do gênero. Depois de pagar várias prestações, as primeiras já
sumiram. Como comprovar que paguei? Indo até o banco e solicitando que faça uma
devassa na minha conta, não é mesmo? Pois é. Tempo perdido, trabalho dobrado e
dor de cabeça para todos os envolvidos. Simples, simples seria autenticar o
documento e fazer com que todos sejam felizes para sempre.
De tantas explicações que me deram, uma delas fala sobre a
agilidade! Ora, que demora há em chancelar um documento? Acredito que a
impressão no papel termo-sensível demore uma eternidade, perto do que é apertar
um botão para fazer com que a ‘comprovação’ fique marcada no meu documento. E
ainda tem a fotocópia! Mais: eu pago para isso! E ninguém pediu a minha opinião
para saber se eu aceito, se eu gosto, se eu prefiro e se eu quero receber um
papel impresso que vai apagar logo, ou se eu quero a marca impressa no meu
documento. Acho isso totalmente antidemocrático! E venhamos e convenhamos, a
outra explicação de que é econômico também não procede. O papel é caro e
gasta-se muito mais. Cadê aquela política de economia para não desperdiçar
papel? Onde foi parar aquela iniciativa de diminuição de emissão de papeis para
ajudar o meio ambiente? Balela? Sem falar que o papel termo-sensível contém
produtos químicos nocivos à saúde humana. Imagina guardar isso dentro de um
armário... E quem lida com ele todos os dias? Os bancos pagam adicional de
insalubridade para que os funcionários o manuseiem todos os dias? Será que a
alta cúpula do Banco Itaú sabe disso? Vamos lá: Esse papel não é reciclado! (Onde está aquela história de empresa
autossustentável, amiga do meio ambiente?). Trata-se do papel termo-sensível,
isso porque a impressão dos dados é térmica (feita a partir da temperatura da
máquina, reagindo com o papel). Embora pareça inofensivo, esse tipo de papel
apresenta em sua composição o bisfenol-A,
ou BPA, que é potencialmente nocivo à saúde. Não sou eu quem diz isso. É
estudo científico comprovado.
Segundo informações
divulgadas no site da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia do
Estado de São Paulo (SBEM-SP), “vale a pena ressaltar que alguns dos efeitos
deletérios do bisfenol, como por exemplo, os de alterar a ação dos hormônios da
tireóide, a liberação de insulina pelo pâncreas, bem como os de propiciar a
proliferação das células de gordura, foram observados com doses
nanomoleculares, ou seja, doses extremamente pequenas, as quais seriam
inferiores à suposta dose segura de ingestão diária. (Fonte: Melzer et al,
Environmental Health Perspectives, 2011)”.
Os males
De maneira geral, o
BPA desequilibra o sistema endócrino, modificando o sistema hormonal. O efeito
do BPA no organismo pode causar aborto, anomalias e tumores do trato
reprodutivo, câncer de mama e de próstata, déficit de atenção, de memória
visual e motor, diabetes, diminuição da qualidade e quantidade de esperma em
adultos, endometriose, fibromas uterinos, gestação ectópica (fora da cavidade
uterina), hiperatividade, infertilidade, modificações do desenvolvimento de
órgãos sexuais internos, obesidade, precocidade sexual, retardo mental e
síndrome dos ovários policísticos.
Normalmente, a
contaminação se dá pela ingestão, o BPA se desprende dos recipientes plásticos
e acaba contaminando o alimento. Uma pesquisa publicada pela Analytcal
and Bioanalytical Chemistry, mostrou que, no caso dos papéis termo
sensíveis, a contaminação pode ocorrer pelo contato com a pele. Segundo a
pesquisa, a contaminação varia de acordo com a quantidade de BPA presente na
composição do papel, e é bem menor do que a contaminação pela ingestão, mas
ainda sim devemos estar atentos.
O que fazer?
Sempre que possível
evite a impressão de extratos e comprovantes, dê preferência às versões
digitais, como a comprovação do débito por SMS, por exemplo. Embora o papel
termo-sensível seja reciclável, devido à presença de BPA em sua composição, o Pollution
Prevention Resource Center (PPRC) recomenda o descarte desse tipo de
papel no lixo comum para evitar a contaminação por BPA, que é liberado no
processo de reciclagem. Segundo a pesquisa, a reciclagem do papel termo-sensível
pode aumentar a exposição humana ao BPA, uma vez que, durante o processo, pode
haver contaminação de outros produtos de papel reciclado. O BPA já foi
encontrado, por exemplo, em papéis toalha.
Mas, além desses “probleminhas” causados pelo tal papel (e
tenho certeza de que a empresa – Banco Itaú – se preocupa com a saúde dos seus
funcionários e clientes) fica no ar a minha questão: qual o motivo disso?
Economia, agilidade e meio ambiente? Já derrubei todas essas hipóteses. Por que
não me deixam escolher o que eu quero? O banco resolve algo, que não se sabe
por qual motivo, não consulta seus clientes sobre a decisão tomada e, sequer,
os informa das mudanças. Isso não existe! Eu sou cliente, pago por isso e quero
que os meus documentos sejam chancelados, marcados para sempre, como tatuagem. Se
o banco não pode atender aos meus anseios (que são mais que normais e naturais)
também não sirvo para ser cliente. Quando falamos em atendimento de excelência,
a satisfação do cliente está em primeiro lugar. Não precisa ser PhD em
marketing ou estratégia mercadológica para saber disso.
Então, que fique claro a minha insatisfação com o banco. Que
fique claro que não aceito o tal papelzinho amarelo de fax, que contamina e
prejudica a saúde, como comprovação de pagamento. Quer forçar o cliente a usar
o caixa eletrônico? Ótimo! Desafoga fila. Gosto disso. Mas então, use material
inofensivo e que seja de qualidade e não apague com o apagar das luzes de um
ano (ou sete, como dizem, se houver cuidado maior do que se tem com um
recém-nascido) já que dinheiro não é problema... Chateado com isso! Será que fui
convincente?
Rimene Amaral
Jornalista e cliente
Itaú Personnalité
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