O desabamento de parte do teto
Goiânia Shopping mostrou o que a ganância e o despreparo de empresários podem
colocar em risco muitas vidas. Centenas delas! Quando o corre-corre começou,
depois que a primeira parte do teto caiu, eu estava a caminho da área de
alimentação. Iria almoçar, mas por conta de um amigo, Pedro Pio, que me chamou
para um papo no café, não subi antes para o terceiro piso, onde tudo aconteceu.
Quando tomamos consciência do desabamento
começamos a nos movimentar. Um princípio de pânico já havia se formado. O
instinto de sobrevivência manda você sair. Vem a primeira barreira: filas
gigantescas nos guichês para pagar o estacionamento! Chamei um segurança que
atuava com um rádio amador e pedi a ele que fizessem com que o estacionamento
fosse liberado, já que as cancelas estavam ainda fechadas. “Sou segurança do
shopping e a empresa (Centro Oeste Parking Ltda.) que cuida do estacionamento é
terceirizada!”. Pedi ao segurança que ligasse para alguém da empresa para que o
fizesse. Corri até um dos guichês e disse para a moça que fazia as cobranças,
somente em dinheiro, diga-se!, para que ela entrasse em contato com o gerente
dela para liberar a saída. Ela me olhos nos olhos e disse que já havia ligado e
que a ordem que ela tinha recebido era para continuar cobrando pelo
estacionamento.
Fiquei chocado com a situação. Voltei
ao segurança e fui mais incisivo com ele. Outros seguranças apareceram. Novamente,
início de tumulto num dos guichês. Pessoas apavoradas choravam, crianças aos
prantos com as mães. Ninguém sabia o que estavam acontecendo e não podiam sair
porque a empresa NÃO LIBERAVA O ESTACIONAMENTO! Um absurdo!
Deixei de lado as discussões e
procurei salvar minha pele. Corri para o estacionamento, que estava entupido de
veículos tentando sair, mas ainda parados, já que a cancela estava fechada do
lado de fora, onde uma chuva torrencial desabava e inundava toda a parte do subsolo
do shopping. Com paciência e muito jeitinho, consegui sair de lá. Ainda estava
na área do shopping, mas do lado de fora. Foi quando alguém gritou que estavam
conseguindo sair, quase 20 minutos depois, pela lateral do estacionamento. Mas a
cancela ainda não tinha sido liberada. Até então, havia gente chorando na fila
dos guichês para pagar o estacionamento e conseguir sair.
Depois que saí, fiquei sabendo que
alguns gerentes de loja, que não estavam no shopping, mas que ficaram sabendo
do fado, ordenaram para que as lojas não fossem fechadas, já que o problema
havia acontecido “apenas” no terceiro piso, na área de alimentação.
Fico imaginando onde estavam e o que
estariam fazendo os proprietários, diretores e gerentes da empresa Centro Oeste
Parking Ltda., e quem quer que sejam as pessoas que dão as ordens aos funcionários
para não deixar ninguém sair sem pagar o estacionamento. Será que o exemplo
desse mesmo tipo de ganância, acontecido há pouco mais de um mês na boate em
Santa Maria, no Rio Grande do Sul, quando duzentas e tantas pessoas morreram (e
outras ainda correm risco) não foi suficiente? Pelo visto não! Ainda bem, que
nada de mais grave aconteceu e não houve vítimas, mas que valha como alerta
para que a população não se torne refém da ganância de grandes empresários que
só almejam o lucro, mesmo que isto custe vidas!
Um comentário:
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