No próximo fim de semana, mais de
sete milhões de candidatos, em todo o Brasil, devem enfrentar a prova do Exame
Nacional do Ensino Médio, o ENEM. Digo enfrentar porque é uma verdadeira
batalha psicológica – e por que não dizer física? – a partir do exato momento
em que o candidato adentra a sala de provas até as próximas cinco horas e meia.
Aliás, candidato, prova e tempo, os três envolvidos no processo, não são nada
compatíveis e são todos uns contra os outros.
Não cheguei a fazer prova do ENEM,
mas acredito que deve equivaler, guardadas as devidas proporções, a um
vestibular do curso mais concorrido e complexo desse país. Relatos de alunos dizem
respeito a falhas no cérebro, lesão psíquica, choro compulsivo, tremedeira e
ranger de dentes, durante e após a prova. O candidato tem 90 questões pela
frente e começa com todo o gás. Uma hora depois ele respondeu só dez porque
teve que ler e reler as questões vinte vezes, e cada uma delas tem quase uma
página de enunciado.
As respostas, de múltipla escolha, são
outros quinhentos. Composta das letras A, B, C, D e E quando o candidato chega
a ler a letra C é humanamente impossível lembrar o que a questão pede. No
início, até que a coisa vai bem. Do meio pra frente começa a complicar e quando
chega ao fim, ele não lembra mais como começou e o que a pergunta quer saber. Isso
deixa o cara meio abobado, achando que fundiu.
É aí que começa o momento zen que
cada um deve pôr em prática no momento da prova: para, respira fundo, come um
chocolate, toma água... E mesmo assim não funciona, garantem os sofredores. O
sentimento é de angústia, de incapacidade, de desespero... O candidato retoma a
prova e ainda faltam 70 questões! Setenta! Nenhuma a menos. E você pensa que o
cara é o único? Não. Ele olha para os lados e as pessoas estão aflitas, comendo.
Sim, as pessoas vão fazer a prova do ENEM com uma bolsa daquelas ‘ecobags’ de
supermercado, com tudo o que um bom piquenique deve ter. Tem gente que leva
comida como se fosse entrar num barco que vai rodar o mundo sem expectativa de
parar nos próximos três anos.
É desumano. Olhando para os lados, os
candidatos estão pálidos, sem sangue no rosto, com respiração curta, tentando
encontrar o ar que, ao que parece, já está bem rarefeito. E você acha que alguém
se levanta para ir embora antes de quatro horas e meia de prova? Não! Ninguém nem
ameaça. Ninguém quer ser o primeiro. Na verdade, o que dá vontade de fazer, a
partir desse momento, segundo relatos, é marcar, a partir da questão 45, a
letra B em todas, entregar o cartão preenchido e ir embora correndo.
Entendidos no assunto explicam que,
se é pra “jogar no bicho”, a chance de acertar é maior, marcando uma letra só. Sei
de um cara que, numa prova de vestibular para um curso de humanas, ele marcou
letra B nas 12 questões de Física. Acertou quatro, um terço da prova, e não
zerou. Valeu. Mas essa história de marcar todas as questões que sobraram com a
mesma letra, depois que a massa encefálica pediu arrego, demanda
desprendimento, desapego. Não se pode ler a questão, porque, senão, o candidato
vai querer compreender aquilo e vai voltar à estaca zero. No desespero, o
candidato olha para os lados e não sabe se as pessoas estão entendendo
absolutamente tudo ou absolutamente nada.
A competição é injusta, a meu ver,
principalmente com alunos jovens, criados para ser crânios de ferro, e
candidatos mais erados, já passados dos 30. Há pessoas que querem mudar isso e
acham que o estudante não pode passar por essa pressão toda. Já acompanhei
algumas saídas de candidatos das provas do ENEM. Não vi um aluno sair feliz de
uma prova. As pessoas saem estressadas, cuspindo em quem oferece água, na saída
da prova. Gente chorando e a imprensa com a câmera na cara do candidato
perguntando como foi a prova. Que resposta o repórter espera? Isso não sei. Mas
a resposta que ele tem é sempre seguida de delirium
tremens e choro, muito choro!
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