Quem
nunca comeu num restaurante por quilo que atire a primeira colherada de
fricassê. Com o tempo escasso, durante a semana, os restaurantes ‘entre-sirva-pese-coma-e-pague’
ganharam mais clientes que as lojas que vendem artigos chineses ao preço de R$
1,99. Antes restritos a arroz, feijão, carne, alface e tomate, os restaurantes
agora têm um cardápio variadíssimo, com saladas diversificadas ao ponto de
deixar qualquer macrobiótico com inveja. As massas, as carnes – inclui-se
churrasco – e as sobremesas fazem qualquer pessoa se sentir num banquete diário
na hora do almoço. Esse é o problema. Tem coisa demais para escolher.
Assim
que se entra no restaurante já se esbarra no fim da fila. Sim. Há filas longas
e lentas, primeiro, para pegar o prato. Depois começa a exposição das bandejas.
Freqüento um restaurante que oferece nada menos que 54 tipos de salada. Há
coisas ali que nunca imaginava existir. E olha que conheço bem de comida. Junto
com o que pode ser servido como entrada vêm os patês, suflês e todos os pratos
derivados da culinária francesa, incluindo o fricassê – que fiquei sabendo há
pouco, o original não contem frango. Começa a via-sacra e o teste de paciência.
À
sua frente sempre tem: uma garota magra que conta os caroços de lentilha que
estão na colher e vão para o prato; uma mulher de meia idade que se propôs a
entrar na dieta justamente naquele dia – esta, ainda na dúvida, coloca tudo no
prato e depois devolve metade porque a consciência pesou com a quantidade de
batata; uma mãe tentando convencer o filho que acabara de sair da escola a
comer alguma coisa que não seja arroz e batata frita; um senhor que não
consegue enxergar direito e enche o prato de grão de bico, achando que são
bolinhos de queijo e, quando percebe o engano, cai na risada e devolve tudo
para a bandeja, jorrando saliva num raio de quatro bandejas para cada lado – já
me eliminam oito ‘misturas’... e a paciência.
Tem
também aquela dondoca indecisa, uma das figuras diárias que mais me irritam nas
filas dos restaurantes. Ela coloca 17 pedaços de beterraba escolhidos
cuidadosamente – todos medindo dois centímetros cúbicos – e percebe que é
demais. Devolve oito para a bandeja. Viu que ficaram nove. Mas ela gosta de
números redondos e pega mais um. E assim ela faz com o arroz, o feijão e tudo o
que pode ser contável naquele infindável cardápio. Eu estou ali, bem atrás,
esperando pacientemente que ela se decida pelas suas quantidades. Quase desejo
sua morte.
Dia
desses havia uma senhora bastante debilitada à minha frente, na fila, não sei se
surda ou com mal de Alzheimer. E eu esperando com toda a paciência que Deus me
deu. A acompanhante dela gritou seis vezes perguntando se ela queria “patê de
palmito com salmão defumado”. Seis vezes! Tive de intervir e abortar a sétima
tentativa. Expliquei que palmito, para uma senhora daquela idade, poderia
causar botulismo. A acompanhante botou a mão direita no peito, apertou os
olhos, exclamou alguma coisa que não consegui entender e passou para o próximo
prato. Agilizei a fila em dois minutos, um ganho considerável de tempo, visto
que em alguns momentos a fila para.
http://www.aredacao.com.br/artigos/39046/paciencia-a-quilo
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