sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Diálogo com a vizinha de cima

Parte II

Era madrugada de sexta para sábado. Havia feito um trabalho extra e, portanto, o descanso justo tinha sido atrasado. Meus 89 relógios, incluindo os de parede, marcavam 3h14, madrugadinha fresca. Ótimo para dormir. Tomei um banho, fiz uma “boquinha” e caí na cama. Quase 4 da manhã! Foram duas horas de um sono profundo e acalentador. Não mais que duas horas.

Às 6 horas, ainda escuro por causa do inverno, ouço um barulho estranho e quase ensurdecedor, devido ao silêncio que se fazia, ainda de madrugada! Acordei e quase grudei no teto, como gatos, quando são assustados e arrancados de um sono profundo. Até fazer a cabeça funcionar para entender o que estava acontecendo demorou um pouco. Não foi difícil entender que o barulho vinha, adivinha de onde? Do apartamento da minha vizinha de cima!

Ela parecia ter acordado disposta a fazer uma faxina daquelas. Pelo visto – ou ouvido! – ela começara por arrastar os móveis. E já tinha começado pelo sofá. Não tinha visto nada. Ainda estava na minha cama. Mas já era capaz de desenhar a cena toda: a vizinha de cima com um lenço amarrado na cabeça, uma camiseta de propaganda toda relaxada e uma bermuda de lycra preta. Nos pés, as legítimas! Havaianas brancas com as tiras azuis.

Esperei mais um pouco antes de tomar qualquer decisão. Mas ela parecia querer colocar o sofá dentro do banheiro, ou na sacada, na cozinha... sei lá! O que sei é que a vizinha de cima ficou durante meia hora arrastando alguma coisa lá em cima e impedindo-me de dormir. Claro, tive que tomar providências.

Enrolei-me no roupão e, descalço, subi as escadas rumo ao andar de cima. 6h32 da manhã! A vizinha de cima abriu a porta.

A mulher do apartamento de cima: Bom dia!

Eu: Bom dia! A senhora vai dar faxina hoje?

A mulher do apartamento de cima: Ah, sim! Sábado é dia de f...

Antes mesmo de ela pronunciar a palavra faxina, me adiantei.

Eu: ... E de dormir até mais tarde também, expliquei a ela.

Ela fez um olhar de quem não havia entendido.

A mulher do apartamento de cima: Como?

Eu: Minha senhora, hoje é sábado. Trabalhei até de madrugada. Cheguei em casa e pretendo dormir pelo menos mais umas duas horas. Seria possível a senhora me permitir?

A mulher do apartamento de cima: Mas eu não estou...

Novamente a atropelei:

Eu: Está sim, senhora! A senhora parece estar arrastando seu sofá para o banheiro! Sofá fica quieto na sala. A senhora sabe que horas são? E a senhora sabe a que horas começou a arrastar as coisas em casa? E a senhora sabe que tem alguém no apartamento de baixo tentando dormir? Acho que conhece todas as respostas. Agora eu vou descer, vou voltar para a minha cama e vou dormir. Vou dormir sem qualquer barulho no apartamento de cima do meu até às 11 horas. Entendeu?

Ela balançou a cabeça afirmativamente e engoliu seco.

Eu: Passar bem!

A mulher do apartamento de cima: Bom dia!

Eu: Espero que seja. Só depende da senhora!

2 comentários:

Deire Assis disse...

olha só: conheço umas pessoas que fazem umas bombas caseiras fantásticas. não deixam vestígios nem suspeitas.

Anônimo disse...

Rimene, são 6.19hs e não estou fazendo barulho algum (meu computador é deliberadamente silencioso), exceto morrer de rir do seu conto... adorei!
beijo
Marina Sant'Anna