terça-feira, 26 de agosto de 2008

Meu instrutor particular


Quando a lembrança quer vir à tona, nada consegue desviá-la do seu objetivo. Hoje pela manhã, quando saia de casa para o trabalho, vi uma cena que me remeteu aos meus 6 anos de idade. Na porta do meu prédio, um homem com um filho no colo dentro do carro, deixava que a criança usasse o volante como se estivesse dirigindo. Lembrei-me de quando meu pai fazia o mesmo comigo. Suspirei pela saudade. E me esqueci da cena na esquina da frente. Depois do almoço, quando saia para uma entrevista, vi a cena se repetir no estacionamento de um posto de combustível. Eram outros personagens e outro cenário, mas a cena era a mesma. Deu um nó na garganta!

Foi meu pai quem me ensinou a domar um veículo. Digo 'domar' porque dirigir mesmo, a gente só aprende com a experiência. Eu ainda não tinha tamanho suficiente para alcançar os pedais do carro. Então ele me colocava no colo e deixava com que eu 'conduzisse' o veículo em um campo de várzea, que ficava próximo de casa. Era meu divertimento favorito. Sábado à tarde, meu pai e o carro no campo! Esperava a semana inteira pelo dia. Acho que é por isso que gosto tanto das tardes de sábado.

O tempo foi passando e minhas pernas começaram a alcançar o acelerador. A sensação de poder ligar o carro pela primeira vez e fazer ele sair, mesmo que aos pulos, foi de superioridade. Em poucas semanas já achava que podia dirigir qualquer veículo.

Foi meu pai quem me disse que deve se soltar a embrenhagem bem devagar para o carro não 'saltar'. Depois, ele me ensinou que o tempo entre a mudança de marcha não precisava ser de um segundo – eu achava que o carro poderia apagar se a mudança não fosse feita instantaneamente! Foi meu pai também quem me ensinou que quando se tem uma curva à frente é preciso diminuir a velocidade. As instruções ele me dava dia a dia, a todo momento em que andávamos de carro juntos.

Quando consegui, pela primeira vez, me deslocar com o carro por uma distância que superasse os 500 metros do campo de várzea, senti novamente a sensação de superioridade. E meu pai chegou até mim e disse: “Não pense que isso te faz mais forte ou melhor que qualquer pessoa. Isso requer muita responsabilidade”. Nunca me esqueci disso!

Aos 18 anos, fiz meu teste para adquirir minha habilitação. Elogiado pelo instrutor do Detran que aplicou a prova, eu apenas resumi a situação e disse a ele: “Tive o melhor instrutor que alguém poderia ter. Ele é meu pai!”.

5 comentários:

Anônimo disse...

Que lindo, Misifio. E ele continua te ensinando a guiar e te guiando lá de cima. :)

KK disse...

Saudade merecida! Vou comer uma pamonha bem grande com um copo de requeijão derramado em cima só pra homenagear!!!
Vi vc na tv... Estava lindo.

Giselle Saggin disse...

Putz... essas lembranças realmente nos remete ha um tempo que ainda sonhavamos com super heróis... e eles estavam ali compartilhando nosso dia a dia não é mesmo Ri... proposito, a panhoma com requeijão também tem história... :)
Bjos

Deire Assis disse...

lembranças. elas nos mostram que estamos vivos.

Anônimo disse...

Coisas que só pai sabe fazer, né! O meu deu gargalhadas quando, pela primeira vez, em uma "aula" tendo ele como "instrutor" eu sentei no banco do motorista e perguntei o que fazer. Ele prontamente respondeu: Descruze as pernas minha filha! KKKKK um beijo