sábado, 17 de janeiro de 2009

Estatuto do Homem

Artigo 1
Fica decretado que agora vale a verdade, agora vale a vida e de mãos dadas marcharemos todos pela vida verdadeira;

Artigo 2
Fica decretado que todos os dias da semana, inclusive as terças-feiras mais cinzentas, têm direito a converter-se em manhãs de domingo;

Artigo 3
Fica decretado que, a partir deste instante, haverá girassóis em todas as janelas, que os girassóis terão direito a abrir-se dentro da sombra e que as janelas devem permanecer o dia inteiro abertas para o verde onde cresce a esperança;

Artigo 4
Fica decretado que o homem não precisará nunca mais duvidar do homem, que o homem confiará no homem como a palmeira confia no vento, como o vento confia no ar, como o ar confia no campo azul do céu; parágrafo único, o homem confiará no homem como um menino confia em outro menino;

Artigo 5
Fica decretado que os homens estão livres do julgo da mentira, nunca mais será preciso usar a couraça do silêncio nem armadura de palavras, o homem se sentará a mesa com seu olhar limpo porque a verdade passará a ser servida antes da sobremesa;

Artigo 6
Fica estabelecida durante dez séculos a prática sonhada por Isaías que o lobo e o cordeiro pastarão juntos e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora;

Artigo 7
Decreta e revoga, fica estabelecido o reinado permanente da justiça e da claridade, e a alegria será uma bandeira generosa para sempre desfraudada da alma do povo;

Artigo 8
Fica decretado que a maior dor sempre foi, e será sempre, não poder dar-se amor a quem se ama e saber que é a água que dá à planta o milagre da flor;

Artigo 9
Fica permitido que o pão de cada dia que é do homem o sinal de seu suor, mas que sobretudo tenha sempre o quente sabor da ternura;

Artigo 10
Fica permitido a qualquer pessoa, qualquer hora da vida o urro do trai branco;

Artigo 11
Fica decretado por definição que o homem é o animal que ama, e que por isso é belo, muito mais belo que a estrela da manhã;

Artigo 12
Decreta-se que nada será obrigado nem proibido, tudo será permitido, inclusive brincar com os rinocerontes e caminhar pelas tardes com imensa begonia na lapela; parágrafo único, só uma coisa fica proibida: amar sem amor;

Artigo 13
Fica decretado que o dinheiro não poderá nunca mais comprar um sol das manhãs de todas, expulso do grande baú do medo, o dinheiro se transformará em uma espada fraternal para defender o direito de tentar e a festa do dia que chegou;

Artigo Final
Fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual será suprimida dos dicionários e do pântano enganoso da dor. A partir deste instante, a liberdade será algo vivo e transparente como um fogo ou um rio, e a sua morada será sempre o coração do homem.
Exclarecimento:
Bem, a autoria desse texto acabou trazendo algumas discórdias entre pessoas do meio jornalístico, literário e social. Eu o li, a primeira vez, como sendo do jornalista Pedro Bial. Minha amiga Anna Canedo mandou um e-mail alertando-me para a autoria que, segundo ela, é de Thiago de Melo, nortista. No mesmo dia, meu consultor para assuntos de seriados norte-americanos, Wadih Elakadi, me disse que se tratava de Mano Melo, Claufe Rodriguez, Pedro Bial e Açexandra Maia, a autoria do Estatuto. Então, se todos já escreveram e se disseram donos é porque já não é de mais ninguém. Por via das dúvidas – e para não cometer nenhuma injustiça –, seguem os nomes de todos que foram envolvidos no processo, até agora. Parabéns a todos eles!

3 comentários:

Wadih Elkadi disse...

Rimene este texto é de um poeta nordestino chamado Mano Melo, ele faz parte de um grupo chamado "Ver o verso", composto por Claufe Rodriguez, Pedro Bial e Açexandra Maia.

Calico disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Calico disse...

Desculpe Wadih,
A POESIA é do poeta Thiago de Mello narrada neste caso pelo grande poeta Mano Melo!
Calico