Eu sempre imaginei que a Nazaré tivesse algo que a deixasse diferente das pessoas e dos seres humanos (para plagiar a minha amiga Gal!). Achava que ela não era uma pessoa normal. Naquele sábado, tive certeza!
Só pra variar, o telefone tocou antes de o sol, sequer, sonhar em mandar os primeiros raios. Sensação de frio na espimnha, coração disparado, um leve peso no estômago. Olhei para o aparelho, mas o braço não atendia ao comando do cérebro. Parou de tocar. Respirei fundo e consegui me virar na cama. Foi o tempo de digitar o número do meu trelefone de novo. Nova tentativa e meu braço alcançou o fone, a duras penas.
“Hum”, atendi sem muita vontade. Adivinha quem? Ela mesma! Uma voz mole do outro lado da linha me deu bom dia e vieram à tona todas as sensações para que não pairassem quaisquer dúvidas de que era a Naza!
“Ah, não. Nazaré?!”. Claro. Mas que pergunta. Quem poderia ser, o Lula? Bento XVI? Barack Obama, me convidando para ser chefe do serviço de Comunicação norte-americano? Era a Nazaré!
Numa fração de segundos minha mente correu todos os cômodos do apartamento a procura de uma folha de A4, com alguma oração. Passou pela mesa da sala e pelo balcão do meu bar a procura de uma lista de compras ou um bilhete de achados, perdidos e quebrados. Nada! Tive a certeza de que, dessa vez, não havia oração a ser lida. Dessa eu estava isento.
“Bom dia, Nazaré. O que foi?”
Com a voz já meio alterada, ela pergunta:
“Você tem aquele negocim de pô retrato?”
Minha cabeça deu um nó. “Negocim de pô retrato! O que é isso, meu Deus?”
Calei um tempo e quase caí no sono profundo de novo, mas fui subtamente arrancado de lá pela voz insistente da Naza.
“Sabe quando a gente tira retrato pra fazer documento? Daqueles retratos que só tem a cara da gente?”, ela tentou me explicar. Entendi. Ela continuou a explicação: “Num vem dentro dum negocim de plástico de pô retrato?”.
(Nota: A explicação fez minha cabeça passear dentro de uma carteira de bolso antiga, que eu usava ainda no colegial. Era azul roial, da OP, auge da moda nos idos da década de 1990. Nela, havia um compartimento interno onde eu guardava as fotos 3X4 dentro de um mini-envelope de plástico. Me fez lembrar do dia em que eu precisei de fotos para fazer uma matrícula. Estava no centro da cidade e entrei numa loja de cine e foto. Um recepcionista me conduziu até a sobreloja. Lá havia um espelho, com lâmpadas de 40 wats em volta, como se fosse o de um camarim, um pente de plástico cor-de-rosa e um estojo preto, que tive receio de tocar (até hoje não sei – e nem imagino! – o que havia dentro!). Lembrei do “porta-fotos 3X4” de plástico verde-exército, com o carimbo da loja em dourado.
Voltando à minha cama e ao telefone...
“Sei, Nazaré. E o que tem isso?”, perguntei já esprerando o desfecho da ligação.
Com a tranquilidade de uma criança que lambe um pirulito, sabendo que ainda existem mais dez guardados em seu poder, Nazaré nem se ruboriza – eu tenho certeza! – e me pergunta se eu tenho um daqueles para dar a ela.
“É pra colocar passe de ônibus”, ela explica, enfim.
Cerrei os dentes e amarrei meu coração. Tentei controlar a respiração, já ofegante. Segurei a língua e pensei num córrego de águas cristalinas e uma mata verde em volta... pensai na minha avó, rosto meigo e maroto, apesar das rugas... pensai no cachorrinho da vizinha, no pássaro que cantava lá fora, no café quente, num sorriso de criança... tudo para não explodir e sair do sério. Pavio loooongo... não é assim? Pois é. Desliguei o telefone. Tirei-o da tomada. Fechei a persiana e comecei tudo de novo, como se tivesse sido um pesadelo.
Só pra variar, o telefone tocou antes de o sol, sequer, sonhar em mandar os primeiros raios. Sensação de frio na espimnha, coração disparado, um leve peso no estômago. Olhei para o aparelho, mas o braço não atendia ao comando do cérebro. Parou de tocar. Respirei fundo e consegui me virar na cama. Foi o tempo de digitar o número do meu trelefone de novo. Nova tentativa e meu braço alcançou o fone, a duras penas.
“Hum”, atendi sem muita vontade. Adivinha quem? Ela mesma! Uma voz mole do outro lado da linha me deu bom dia e vieram à tona todas as sensações para que não pairassem quaisquer dúvidas de que era a Naza!
“Ah, não. Nazaré?!”. Claro. Mas que pergunta. Quem poderia ser, o Lula? Bento XVI? Barack Obama, me convidando para ser chefe do serviço de Comunicação norte-americano? Era a Nazaré!
Numa fração de segundos minha mente correu todos os cômodos do apartamento a procura de uma folha de A4, com alguma oração. Passou pela mesa da sala e pelo balcão do meu bar a procura de uma lista de compras ou um bilhete de achados, perdidos e quebrados. Nada! Tive a certeza de que, dessa vez, não havia oração a ser lida. Dessa eu estava isento.
“Bom dia, Nazaré. O que foi?”
Com a voz já meio alterada, ela pergunta:
“Você tem aquele negocim de pô retrato?”
Minha cabeça deu um nó. “Negocim de pô retrato! O que é isso, meu Deus?”
Calei um tempo e quase caí no sono profundo de novo, mas fui subtamente arrancado de lá pela voz insistente da Naza.
“Sabe quando a gente tira retrato pra fazer documento? Daqueles retratos que só tem a cara da gente?”, ela tentou me explicar. Entendi. Ela continuou a explicação: “Num vem dentro dum negocim de plástico de pô retrato?”.
(Nota: A explicação fez minha cabeça passear dentro de uma carteira de bolso antiga, que eu usava ainda no colegial. Era azul roial, da OP, auge da moda nos idos da década de 1990. Nela, havia um compartimento interno onde eu guardava as fotos 3X4 dentro de um mini-envelope de plástico. Me fez lembrar do dia em que eu precisei de fotos para fazer uma matrícula. Estava no centro da cidade e entrei numa loja de cine e foto. Um recepcionista me conduziu até a sobreloja. Lá havia um espelho, com lâmpadas de 40 wats em volta, como se fosse o de um camarim, um pente de plástico cor-de-rosa e um estojo preto, que tive receio de tocar (até hoje não sei – e nem imagino! – o que havia dentro!). Lembrei do “porta-fotos 3X4” de plástico verde-exército, com o carimbo da loja em dourado.
Voltando à minha cama e ao telefone...
“Sei, Nazaré. E o que tem isso?”, perguntei já esprerando o desfecho da ligação.
Com a tranquilidade de uma criança que lambe um pirulito, sabendo que ainda existem mais dez guardados em seu poder, Nazaré nem se ruboriza – eu tenho certeza! – e me pergunta se eu tenho um daqueles para dar a ela.
“É pra colocar passe de ônibus”, ela explica, enfim.
Cerrei os dentes e amarrei meu coração. Tentei controlar a respiração, já ofegante. Segurei a língua e pensei num córrego de águas cristalinas e uma mata verde em volta... pensai na minha avó, rosto meigo e maroto, apesar das rugas... pensai no cachorrinho da vizinha, no pássaro que cantava lá fora, no café quente, num sorriso de criança... tudo para não explodir e sair do sério. Pavio loooongo... não é assim? Pois é. Desliguei o telefone. Tirei-o da tomada. Fechei a persiana e comecei tudo de novo, como se tivesse sido um pesadelo.
2 comentários:
Poderia ser mais interessante o blog.
obrigado pela visita, laurinda. aceito sugestões! aliás, esta é a proposta do blog. se tiver um tempinho, vá até o primeiro post (trocando fraldas e comendo pão de queijo)... abraço!
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