Você é daquelas pessoas que passam o
ano todo programando o feriado de carnaval? Combina com os amigos? Aluga casa
em Pirenópolis ou flat em Caldas
Novas? Procura uma praia animada, onde a farra com gente desconhecida é garantida?
Ferve em Salvador? Recife? Customiza aquela camiseta com pedras brilhosas e
outras bijuterias? Junta aquela graninha suada para comprar uma fantasia e
desfilar numa escola de samba do Rio de Janeiro? Passa a quaresma inteira
postando nas redes sociais as fotos que tirou na Marquês de Sapucaí, lavado de
suor e com as penas da alegoria se despencando? Tudo bem. Você faz parte da
grande maioria de brasileiros e de gringos que aportam em terras tupiniquins
para curtir a folia de Momo – que, de Momo, mesmo, ninguém tem nem notícia!
Você está dentro da normalidade de um monte de gente que é apaixonada por
carnaval.
Mas mesmo nascendo, crescendo e
vivendo no Brasil, tem gente que não gosta de carnaval. Não tolera a jardineira
que está tão triste, não quer saber quantos risos, oh!, quanta alegria e nem se
há mais de mil palhaços no salão. Enquanto os foliões passam os últimos dias do
ano – já que o Brasil só funciona mesmo depois do carnaval – se intoxicando, há
quem passa o feriadão dormindo, lendo, comendo bem, assistindo a bons filmes e
seriados. E tem gente que, acredite, passa o carnaval rezando. E se você é
desses que preferem algo mais tranqüilo que a folia, aí vão algumas dicas para
se divertir – ou não! – durante o reinado de Momo.
1.
Assistir
a seriados: É hora de colocar em dia todas as temporadas daquele seriado
norte-americano que você comprou numa promoção do Submarino, por R$ 99,90. Em
média, cinco temporadas. Cada uma com quatro DVDs. Cada DVD tem quatro
episódios. Cada episódio, em média, 40 minutos. São 3200 minutos de filme, ou
53,333 horas. Tirando seis horas de sono por dia, mata-se um seriado todinho em
três dias. Ainda sobra um dia e meio. Mais uns oito filmes ainda podem ser
assistidos.
2.
Vigiar
a cidade: Minha amiga Maria Thereza Alencastro Veiga é dessas. A idéia é a
seguinte: entre um intervalo e outro de um programa de TV, ou na pausa longa
que você costuma dar para “descansar as vistas”, pode-se chegar até a sacada do
apartamento ou à janela de casa e ver se tudo corre bem pela cidade onde, desde
sexta depois das seis da tarde, é possível andar nu pelas ruas. Atenção!
Qualquer movimento suspeito que não seja um cachorro correndo, um pombo dando
um rasante numa estátua ou um catador desavisado procurando latinhas de
alumínio é motivo suficiente para correr e chamar a polícia. Você pode ajudar a
manter a ordem.
3.
Visitar
os parentes: Momento propício para visitar aquela tia doente de erisipela, que
não anda mais faz uns seis anos e, na última vez que te viu durante a ceia de
Natal de 2008, te chamou de desnaturado. Passe numa padaria boa e compre meio
quilo de cada quitanda – pão-de-queijo, broa de fubá, enroladinho, diplomata...
–, umas quatro caixas de suco de pêssego e leve como demonstração de que você
se importa, sim, com ela. Aquelas laranjas descascadas por máquinas também são
excelentes para essas ocasiões. O problema será achar os vendedores, que devem
ter corrido para vendê-las na folia da cidade mais próxima. No mais, mantenha a
tia com a boca cheia. Isso vai evitar que ela fale demais e que você ouça o que
não quer.
4.
Cozinhar:
É um bom momento para abrir um daqueles sites
de “culinária prática para iniciantes” ou pegar aquele livro “Dona Benta”, que
você ganhou num amigo secreto naquela empresa em que você trabalhou na década
de 1990, e colocar em prática todos os dotes culinários que nunca teve.
Vantagem: os supermercados estarão vazios e você vai poder comprar todos os
ingredientes com calma e não vai gastar muito tempo na fila do caixa.
Desvantagem: é feriado e a empregada só virá no fim da outra semana. A sujeira
toda será só sua e você ainda corre o risco de passar dias comendo a mesma
coisa para não deixar perder o que sobrou, já que as receitas são sempre para
mais de uma pessoa e, quem se aventura pela cozinha pela primeira vez, quer ver
volume!
5.
Preparar
uma horta: Mora em casa com quintal ou tem uma floreira na sacada do
apartamento? Pronto! O principal você já tem: terra. Na sexta-feira à tarde,
quando uma imensa multidão formar filas de veículos nas rodovias a caminho da
folia, você estará num viveiro de mudas ou num supermercado escolhendo as
sementes. Compre três ervas de tempero (sugiro alecrim, manjericão e tomilho),
uma espécie de pimenta e alguns tubérculos. Não se esqueça do adubo, da terra
preta e de um regador. Se você tiver preparo físico e os exercícios para a
lombar não o faz sofrer, você conseguirá fazer sua horta no fim de semana,
tran-qui-la-men-te. Vai sobrar ainda dois dias e meio para ler tudo sobre “Como
ter uma horta em casa”. Ensina-se até a plantar em garrafas pet.
6.
Arrumar
os armários: Seu janeiro passou tão rápido que você, assim como eu, deixou de
fazer aquela faxina? Então é hora de deixar preguiça de lado, já que fevereiro
dá os últimos suspiros. Papeis tidos como importantes, notas fiscais, comprovantes
de compras com cartão de crédito, listas telefônicas – sim, elas ainda existem!
– as centenas de propagandas da nova pizzaria do seu bairro, os cartões de
visita que você jamais vai se lembrar de quem são, quilos de chamex com anotações
inúteis, revistas velhas, jornais e similares. Separe tudo e chame uma
associação que venda o papel para a reciclagem. Você ainda faz uma boa ação.
Mas se nenhuma dessas atividades te
agradar, que tal abrir uma boa garrafa de vinho – ou duas. Quem sabe três? –,
convidar os possíveis amigos que também estão à espera de alguma coisa para
fazer, encher a mesa de batatas ruffles
de todos os sabores e amendoins japoneses, preparar aquele set de músicas que você não escuta há anos e se entregar à sessão
naftalina? No fim das contas, vai dormir tranqüilo e o carnaval servirá, ao
menos, para reparar as olheiras. Bom carnaval. Bom sono. Axé!
http://www.aredacao.com.br/artigos/40913/e-quem-nao-gosta-de-carnaval
Um comentário:
O último parágrafo relata exatamente o que fiz esse ano!! Não me arrependo jamais.
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