sábado, 1 de março de 2014

E quem não gosta de carnaval?


Você é daquelas pessoas que passam o ano todo programando o feriado de carnaval? Combina com os amigos? Aluga casa em Pirenópolis ou flat em Caldas Novas? Procura uma praia animada, onde a farra com gente desconhecida é garantida? Ferve em Salvador? Recife? Customiza aquela camiseta com pedras brilhosas e outras bijuterias? Junta aquela graninha suada para comprar uma fantasia e desfilar numa escola de samba do Rio de Janeiro? Passa a quaresma inteira postando nas redes sociais as fotos que tirou na Marquês de Sapucaí, lavado de suor e com as penas da alegoria se despencando? Tudo bem. Você faz parte da grande maioria de brasileiros e de gringos que aportam em terras tupiniquins para curtir a folia de Momo – que, de Momo, mesmo, ninguém tem nem notícia! Você está dentro da normalidade de um monte de gente que é apaixonada por carnaval.

Mas mesmo nascendo, crescendo e vivendo no Brasil, tem gente que não gosta de carnaval. Não tolera a jardineira que está tão triste, não quer saber quantos risos, oh!, quanta alegria e nem se há mais de mil palhaços no salão. Enquanto os foliões passam os últimos dias do ano – já que o Brasil só funciona mesmo depois do carnaval – se intoxicando, há quem passa o feriadão dormindo, lendo, comendo bem, assistindo a bons filmes e seriados. E tem gente que, acredite, passa o carnaval rezando. E se você é desses que preferem algo mais tranqüilo que a folia, aí vão algumas dicas para se divertir – ou não! – durante o reinado de Momo.

1.                  Assistir a seriados: É hora de colocar em dia todas as temporadas daquele seriado norte-americano que você comprou numa promoção do Submarino, por R$ 99,90. Em média, cinco temporadas. Cada uma com quatro DVDs. Cada DVD tem quatro episódios. Cada episódio, em média, 40 minutos. São 3200 minutos de filme, ou 53,333 horas. Tirando seis horas de sono por dia, mata-se um seriado todinho em três dias. Ainda sobra um dia e meio. Mais uns oito filmes ainda podem ser assistidos.

2.                  Vigiar a cidade: Minha amiga Maria Thereza Alencastro Veiga é dessas. A idéia é a seguinte: entre um intervalo e outro de um programa de TV, ou na pausa longa que você costuma dar para “descansar as vistas”, pode-se chegar até a sacada do apartamento ou à janela de casa e ver se tudo corre bem pela cidade onde, desde sexta depois das seis da tarde, é possível andar nu pelas ruas. Atenção! Qualquer movimento suspeito que não seja um cachorro correndo, um pombo dando um rasante numa estátua ou um catador desavisado procurando latinhas de alumínio é motivo suficiente para correr e chamar a polícia. Você pode ajudar a manter a ordem.

3.                  Visitar os parentes: Momento propício para visitar aquela tia doente de erisipela, que não anda mais faz uns seis anos e, na última vez que te viu durante a ceia de Natal de 2008, te chamou de desnaturado. Passe numa padaria boa e compre meio quilo de cada quitanda – pão-de-queijo, broa de fubá, enroladinho, diplomata... –, umas quatro caixas de suco de pêssego e leve como demonstração de que você se importa, sim, com ela. Aquelas laranjas descascadas por máquinas também são excelentes para essas ocasiões. O problema será achar os vendedores, que devem ter corrido para vendê-las na folia da cidade mais próxima. No mais, mantenha a tia com a boca cheia. Isso vai evitar que ela fale demais e que você ouça o que não quer.

4.                  Cozinhar: É um bom momento para abrir um daqueles sites de “culinária prática para iniciantes” ou pegar aquele livro “Dona Benta”, que você ganhou num amigo secreto naquela empresa em que você trabalhou na década de 1990, e colocar em prática todos os dotes culinários que nunca teve. Vantagem: os supermercados estarão vazios e você vai poder comprar todos os ingredientes com calma e não vai gastar muito tempo na fila do caixa. Desvantagem: é feriado e a empregada só virá no fim da outra semana. A sujeira toda será só sua e você ainda corre o risco de passar dias comendo a mesma coisa para não deixar perder o que sobrou, já que as receitas são sempre para mais de uma pessoa e, quem se aventura pela cozinha pela primeira vez, quer ver volume!

5.                  Preparar uma horta: Mora em casa com quintal ou tem uma floreira na sacada do apartamento? Pronto! O principal você já tem: terra. Na sexta-feira à tarde, quando uma imensa multidão formar filas de veículos nas rodovias a caminho da folia, você estará num viveiro de mudas ou num supermercado escolhendo as sementes. Compre três ervas de tempero (sugiro alecrim, manjericão e tomilho), uma espécie de pimenta e alguns tubérculos. Não se esqueça do adubo, da terra preta e de um regador. Se você tiver preparo físico e os exercícios para a lombar não o faz sofrer, você conseguirá fazer sua horta no fim de semana, tran-qui-la-men-te. Vai sobrar ainda dois dias e meio para ler tudo sobre “Como ter uma horta em casa”. Ensina-se até a plantar em garrafas pet.

6.                  Arrumar os armários: Seu janeiro passou tão rápido que você, assim como eu, deixou de fazer aquela faxina? Então é hora de deixar preguiça de lado, já que fevereiro dá os últimos suspiros. Papeis tidos como importantes, notas fiscais, comprovantes de compras com cartão de crédito, listas telefônicas – sim, elas ainda existem! – as centenas de propagandas da nova pizzaria do seu bairro, os cartões de visita que você jamais vai se lembrar de quem são, quilos de chamex com anotações inúteis, revistas velhas, jornais e similares. Separe tudo e chame uma associação que venda o papel para a reciclagem. Você ainda faz uma boa ação.

Mas se nenhuma dessas atividades te agradar, que tal abrir uma boa garrafa de vinho – ou duas. Quem sabe três? –, convidar os possíveis amigos que também estão à espera de alguma coisa para fazer, encher a mesa de batatas ruffles de todos os sabores e amendoins japoneses, preparar aquele set de músicas que você não escuta há anos e se entregar à sessão naftalina? No fim das contas, vai dormir tranqüilo e o carnaval servirá, ao menos, para reparar as olheiras. Bom carnaval. Bom sono. Axé!

Rimene Amaral é jornalista e fotógrafo

http://www.aredacao.com.br/artigos/40913/e-quem-nao-gosta-de-carnaval

Um comentário:

Barbara disse...

O último parágrafo relata exatamente o que fiz esse ano!! Não me arrependo jamais.