sábado, 13 de agosto de 2011

Sem proseio e sem feição


Nem sob tortura papai conseguia falar ‘NÃO’ a alguém. Jamais foi de reclamar aos outros e também não era uma pessoa que deixava de lado um desafio, principlamente quando ele tinha que estudar o caso. Já disse várias vezes que papai era uma espécie de ‘faz-tudo’ e o que vou relatar não foge ao estereótipo!
A campanhia tocou cedo. Era sábado e papai, como sempre, já estava de pé, café pronto e pão de queijo no forno. Ouvi os passos abafados passando pelo corredor externo da casa e chegando ao portão, que gemia ao abrir. Bem longe, escutei a voz de um menino. Ele pedia para que meu pai fosse até a casa dele dar uma olhada na televisão. Afinal, era sábado e ficar sem TV num dia em que também não se tem muita coisa a fazer não era bom. Não ouvi a resposta que papai deu ao garoto, mas sabia que ‘NÃO’ não havia sido!
Tempinho depois me levantei. Papai retirava uma bandeijada de pão de queijo do forno. Pegou um ainda quente, saindo fumaça, e jogava de uma mão à outra para esfriar. Mamãe ainda na cama apenas sentia o cheiro do pão de queijo e do café e reunia coragem para se levantar.
Sem cerimônia, papai cortou duas fatias finas de mortadela, colocou dentro de um pão de queijo e deu-me. Um sanduíche perfeito para um sábado de manhã. Perguntei a ele quem havia tocado a camapnhia e ele me respondeu que iria até a casa de um amigo ver o que estava acontecendo com a televisão. Segundo o garoto, a TV não estava funcionando. E lá foi ele.
Relatos dizem que papai riu como poucas vezes. Chegando na casa do tal ‘amigo’ – nessas horas todos se tornam grandes amigos! – a TV, peça principal da sala, estava rodeada pelas pessoas da família. Papai perguntou o que havia acontecido com o aparelho.
- “O senhor cridita que amanheceu assim? Hora tem proseio e num tem feição. Hora tem feição e num tem proseio!”, disse o dono.
Papai disse que segurou firme para não rir compulsivamente da forma simples, direta e ‘intendível’ que o dono da casa usou para explicar o problema. Abriu a TV, retirou algumas peças, limpou outras, apertou mais umas, soprou, soldou e testou! Ao ligar o aparelho, estavam lá ‘proseio e feição’. Uma imagem mais limpa que fralda de bebê. Um áudio mais puro que água de mina.
A partir daí virou piada e papai passou a contar a história, sempre incrementando um pouco mais. E sempre rindo cada vez mais da TV que não tinha proseio, nem feição. Ainda hoje consigo fechar os olhos e ver a risada larga, os olhos quase marejando de tanta graça e papai retirando um lenço do bolso para enxugar os olhos, atrás dos óculos. Mas a feição e o proseio dele não serão mais afinados. Calaram-se a voz e as risadas. Sumiu-se a feição, que agora fica apenas na saudade.

Feliz Dia dos Pais, onde quer que esteja!

2 comentários:

Ednair Barros disse...

simplesmente lindo... a cara do pai da gente.
parabéns!!

Cássia disse...

Belo!